sábado, 25 de outubro de 2008

Libidinagem das Letras

Marcelo Mário de Melo

É grande o clamor do sexo
no país das letras nuas.
Conheci belas histórias.
Andei lá por muitas ruas.
E escrevo pra que elas sejam
tanto minhas quanto suas.

Vamos conhecer de perto
essa libido letrosa
que se abre aos nossos olhos
pedindo verso e não prosa
porque não tem o tijolo
os atributos da rosa.

Foi num dia iluminado
que tive o encantamento.
Quando estava lendo um livro
e parei por um momento
meus olhos foram colhidos
por um belo movimento.

Duas letras concentradas
trocavam beijos e abraços
numa página aberta
se misturando em amassos.
E caí embevecido
na trilha dos seus compassos.

Elas viram que eu vi
e não ligaram pra isso
seguindo na sua festa
alegres com muito viço
pois amar naquele instante
era o seu compromisso.

Depois chegaram pra mim
disseram: "muito prazer!
Somos do mundo das letras
venha ele conhecer.
Embarque na nossa nuvem
e vamos nos entender".

Segui assim a viagem
com as letras namoradeiras
conhecendo seus amores
seus costumes e fronteiras
que prometi escrever
com palavras verdadeiras.

Agora chegou a hora
de cumprir o prometido
passando para o papel
tudo o que foi assistido.
Que a libido das letras
me aqueça e dê sentido.

Vou correr o alfabeto
desde o A até o Z
descrevendo muitas cenas
desse amor do ABC.
Solte a imaginação
e se envolva no que lê.

O A se excita e avança
abrasado e com furor
olhando a bunda do B
que remexe sem pudor
pedindo que chegue logo
e seja seu invasor.

O C todo escandaloso
mostrando sua entradinha
pulsando no abrir/fechar
tomando a cena e a rinha
puxa o D para a cama
e ficam galo e galinha.

O E se esfrega todo
alisando com os três dedos
sussurando para o F
quentes safados segredos
querendo lhe cavalgar
sem restrições e sem medos.

O G chama de gostoso
o H à sua frente
beija-o com garra e com gula
chupando e ferrando o dente
dizendo que esta noite
quer tudo bem diferente.

O I comprido e esticado
vai chegando para cima
com aquele olho de fome
no J que se aproxima
e diz em tom de galhofa:
"ô que coisinha mais fina!".

O K com o Kama Sutra
e a cartola de Mandrake
diz que vai ser no capricho
sem agonia ou ataque
e despe as roupas do L
depois de tirar o fraque.

O M língua de fora
diz que só quer sexo oral.
Lambendo as linhas do N
faz o maior carnaval
dizendo que muita regra
na cama é um grande mal.

O O que é letra transeira
também não liga pra nada.
Gosta de curtir sem grilo
com festa e muita risada
e vai provocar o P
com uma saia rodada.

O Q diz que gosta um pouco
de curtir uma pancadinha.
Sadomasô controlado
sem risco e dentro da linha
pra levar o R às nuvens
sem deixar uma marquinha.

Rastejando como cobra
depois na ponta do pé
o S encanta a alcova
dança com fogo e com fé
E o T maravilhado
vai à sua Salomé.

O U se chega de leve
devagar muito jeitoso
porque o V letra virgem
está meio temeroso
pergunta se vai doer
e se vai chegar ao gozo.

O W é meio esquisito
e pede coisas estranhas
a um X muito manjado
sabedor das artimanhas
que se enrosca no seu corpo
com mil agrados e manhas.

O Y é um grande voyeur
num mirar que não se cansa
lambendo o Z com os olhos
na sua ardorosa dança
que nunca pode faltar
no amor e na festança.

Mergulhei e nadei mundos
Atrás das letras transeiras.
Recolhi suas lições
Curti suas brincadeiras
E vi as forças do sexo
Livres leves sem complexo
Onipresentes e inteiras.

Mar da libido das letras:
Abre as águas aos humanos!
Robustece suas vidas.
Instila em camas sofridas
O sal e o sol sem enganos.

De A a Z com alegria
Encantando e indo fundo

Mostram as letras que vivem
E curtem sexo profundo
Lançando em novas leituras
Os alfabetos do mundo.

Comentário de Nelly de Carvalho
- linguista de professora da UFPE

Marcelo
Uma beleza de texto, criativo, original.
Parabéns
Nelly

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Acróstico Verde-Oliva e Cinza

Marcelo Mário de Melo

Girassol na mini-tanga.
Assina a ficha petista.
Bate à porta do PV
E vira alkminzista.
Instila um tom verde-oliva.
Retoma a "moral" nativa.
A UDN é a pista.

DECLARAÇÃO DE VOTO

Se estivesse no Rio, votaria nulo.

MMM




terça-feira, 21 de outubro de 2008

Aniversário Jurídico-Urinário

Marcelo Mário de Melo
Completa hoje um ano que o meritíssimo juiz Nilson Nery Guerra foi flagrado no Recife urinando a céu aberto, no estádio do Clube Náutico Capibaribe, durante um jogo, quando recebeu voz de prisão em flagrante e apresentou a sua respeitável carteira de magistrado.
A partir daí correu - ou andou - no Tribunal de Justiça um processo disciplinar interno, que não se sabe em que passo anda ou se já deixou de andar. O fato foi noticiado discretamente na imprensa escrita, mas ocupou largos espaços em numerosos comentários agressivos e jocosos nos blogs de notícias.
Ante o ocorrido, postei aqui um texto expressando solidariedade ao juiz e propondo medidas legais e administrativas para o enfrentamento de situações semelhantes em níveis mais elevados, sob o título de Solidariedade Retroativa. Confira nesta página em Matérias Anteriores

Margarida Cantarelli: uma juíza de direito e de direita

Marcelo Mário de Melo

Em rodas políticas de esquerda transparecem aflições em face de o recurso apresentado pela defesa de João da Costa contra a decisão do juiz de primeira instância que cassou a sua candidatura e suspendeu os seus direitos políticos por três anos, ter caído para ser relatado nas mãos da desembargadora Margarida Cantarelli, membra (*) do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, conhecida pela sua intensa militância política de direita e notoriamente ligada ao senador Marco Maciel.

Vamos procurar analisar com objetividade esta questão.

Em primeiro lugar, não é de se estranhar que, num regime capitalista, os poderes públicos sejam majoritariamente compostos por pessoas de direita, nas gradações possíveis dos mais rançosos aos mais moderados. Trata-se de uma coisa normal. E no caso brasileiro, isto é mais normal ainda, se considerarmos que a nossa saída da ditadura de 1964 para a democracia elitista atual foi marcada pela “transição transada”, com a eleição indireta no colégio eleitoral, a “anistia recíproca” inocentando torturadores de crimes pelos quais nunca foram julgados, a manutenção da Lei de Segurança Nacional, o voto vinculado e outros monstrengos.

E se defendemos a democracia, também não podemos nos espantar com a existência de direitistas nos três poderes. Que eles existam sem risco e em paz. Diferentemente do que se fez durante as ditaduras brasileiras, impedindo e criminalizando a organização e a expressão política das forças de esquerda, demitindo, cassando, processando, prendendo e torturando pessoas por terem essa filiação político-ideológica. E aqui um voto de solidariedade e louvor a todos os juízes, promotores, desembargadores e ministros dos tribunais superiores que foram demitidos, aposentados e cassados e presos pelos atos de força da ditadura. E àqueles que continuaram resistindo nos limites possíveis do Poder Judiciário.

Quanto ao perfil de direita da desembargadora, também nada a estranhar. Filiada à antiga Arena, depois passando ao PDS e ao PFL, ela foi secretária da casa civil de Marco Maciel, governador biônico, de 1979 a 1985. Em 1990 foi chefe de Gabinete de Maciel no Ministério da Educação, governo de José Sarney. Em 1986 foi candidata a senadora na chapa de José Múcio Monteiro, candidato a governador de Pernambuco derrotado por Miguel Arraes. De 1997 a 1999 ocupou a secretária de Educação, com Roberto Magalhães na Prefeitura do Recife. E nesse ano, sendo Maciel o vice-presidente da república, no governo de Fernando Henrique Cardoso, por sua indicação, foi nomeada para o Tribunal Federal de Recursos.

Evidentemente, tratou-se de uma escolha política. Coisa que reflete uma deformação na relação entre os poderes no Brasil. Representa uma ingerência abusiva do Executivo sobre o Judiciário.Gera fidelidades políticas que pressionam negativamente a isenção no ato de julgar. O Poder Judiciário, pura e simplesmente, deveria eleger a lista tríplice e realizar um sorteio para a indicação do escolhido, devendo o Poder Executivo, apenas, ser informado a respeito.

Ante as circunstâncias, resta indagar se o fato de a desembargadora ser políticamente de direita a impede de julgar direito. E aqui não me aventuro a emitir nenhum crédito de confiança ou de desconfiança, pelo caráter de subjetivismo e preconceito aí contido. Teria de percorrer os territórios da ficção e imagina-la recebendo pedidos, sugestões e até pressões de antigos companheiros de militância pefelista de todos os quilates. Teria de, sem conhecê-la de perto, tecer fantasias sobre as suas reações. O que seria um pecado contra a objetividade analítica, por parte de quem é adepto do Realismo Pus e Seiva, que consiste em encarar o real tal qual viceja ou apodrece, negando os exercícios de copidescagem da realidade.

Posto isto, admitamos não ser impossível um julgamento isento por parte da desembargadora. Tecido com a resistência à ideologização, o sentimento de justiça e o apego à substância jurídica dos fatos.

Na história recente do Brasil, há aqueles que assumiram atitudes de serviçais da tirania, do poder econômico ou do conservadorismo - médicos que assinavam óbitos falsos a serviço dos torturadores e juízes que firmavam sentenças encomendadas pelos coronéis. Mas há também os exemplos de atitudes dignas, inclusive em situações de conflito e sob pressão, por parte de pessoas com perfil de direita ou conservador.

O Brigadeiro Eduardo Gomes, direitista e apoiador do golpe de 1964, solidarizou-se com o Capitão Sérgio, do PARASAR, contra o reacionarismo sanguinário do Brigadeiro Burnier. Temendo que ele fosse alcançado pelas malhas da repressão política, um deputado da ARENA, em 1968, abrigou na sua casa o jovem comunista do PCBR, Paulo Pontes, no dia em que disputara com o seu filho, e perdera, a eleição para o diretório do Colégio Estadual de Pernambuco. Quem acabou em Pernambuco com a indecente pensão vitalícia para ex-governador – que Miguel Arraes rejeitou - foi o direitista Roberto Magalhães, no seu governo nos anos 1983 a 1986.

Quando estava recolhido em cela do Esquadrão Dias Cardoso, quartel de cavalaria, no Recife, bairro do Bonji, em 1975, juntamente com o companheiro Luciano de Almeida, durante uma greve de fome, um dia um tenente da PM, recém-saído do forno, ao lado de outro, à porta da nossa cela declarou com firmeza, olhando nos olhos: “somos contra vocês e apoiamos o governo, mas somos contra a tortura”.

A realidade é complexa. O telescópio do mundo não é um talo de mamão. E para esclarecer os fatos, acima de todas as hipóteses, nada como um dia atrás do outro e uma noite no meio. O tempo é de espera.

(*) “ Membra – mulher que participa de um corpo social, político ou administrativo, ou de um grupo que tem atividades, interesses e objetivos comuns” (Dicionário Houaiss, Edição 2004)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Solidariedade Retroativa

Marcelo Mário de Melo

“A justiça tarda, mas não falha”, diz o dito popular. A solidariedade também, acrescento eu, no momento em que deixo expressa a minha mais irrestrita solidariedade ao juiz Nilson Nery Guerra, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, da 7ª Vara da Capital, pelas razões que esclareço a seguir.

O fato é que o excelentíssimo juiz sofreu uma séria ofensa, quando, num jogo de futebol, no estádio do Clube Náutico Capibaribe, na tarde do domingo 21 de outubro de 2007, foi abordado por um policial e tomado como um indivíduo reles e indecoroso, no momento em que urinava a céu aberto, premido por necessidade fisiológica incoercível.

O juiz reagiu à altura, exibindo a sua carteira de magistrado e fazendo retomar à sua insignificância aqueles que o abordaram. O fato chegou às folhas dos jornais e aos blogs de notícias em matérias de tom picante e depreciativo daquela autoridade, que passou também a ser objeto de um processo disciplinar que tramita em rigoroso sigilo, como é comum no âmbito da corporação judiciária.

Pior do que isto foi o tratamento jocoso que, a partir daí, passou a ser dispensado ao juiz nas conversas de redação e nos bate-papos de bastidores entre os profissionais da imprensa escrita, falada, televisada e internetizada. Basta dizer que, quando chegam aos veículos notícias envolvendo o juiz, ele sempre é referido com o epíteto de “o juiz mijão. “Notícia com o juiz mijão” – esta é a cantilena que o envolve.

E que não se venha justificar essa denominação ignominiosa, argumentando com a tirada do escritor Ariano Suassuna em suas aulas-espetáculos, dizendo que não fala de ninguém pela frente, porque isto é uma falta de educação, só o fazendo pelas costas.

É evidente que o mestre Ariano disse isso em tom de blague, ou simplesmente incorporando o personagem Xicó, do O Auto da Compadecida, síntese literária dos presepeiros nordestinos João Grilo, Canção de Fogo e Pedro Malasartes.

No momento em que expresso minha solidariedade ao ofendido e injustiçado juiz Nilson Nery Guerra, aproveito para lançar a proposta de que seja elaborada, com alcance jurídico nacional, a Lei do Livre Xixi, valendo para todos/as mortais.

O novo dispositivo legal levaria ao equilíbrio necessário entre as exigências da lei e as ordens da necessidade, dando cobertura àqueles e àquelas que, nos limites das suas inadiáveis urgências fisiológicas, se vêem obrigados(as) a urinar a descoberto. Com isto se evitaria que passassem pelos constrangimentos impostos ao excelentíssimo juiz supramencionado.

Mas independentemente desse dispositivo legal, o Tribunal de Justiça de Pernambuco ou a Associação dos Magistrados poderia se antecipar com uma ação administrativa de indiscutível operacionalidade, mandando fabricar o Júris-Xixi-Móvel, equipamento composto de urinol e mini-cabine, de fácil e rápida montagem e carregado por uma moto, que acompanharia nas suas peregrinações de lazer os/as integrantes do poder judiciário, servindo-os/as nas suas urgências miccionais. E que se admita também a possibilidade de o equipamento ser ampliado, para poder atender a necessidades relativas a excrementos sólidos, o que asseguraria a competente isonomia escatológica e exigiria uma denominação mais abrangente, como por exemplo, Sanitas-Juris-Móvel.

A mim, que tenho me solidarizado com os protestos, as greves e as ocupações promovidas por estudantes, operários, sem-teto e sem-terra, lamentando neles, apenas, a exígua expressão quantitativa, e que também tenho apoiado as denúncias e manifestações em torno de atitudes ofensivas, preconceituosas e discriminatórias contra os mais diversos segmentos sociais, majoritários ou minoritários, não seria estranho expressar a solidariedade ao ilustríssimo juiz Nilson Nery Guerra, que no seu exercício mictório não chegou a arranhar o estatuto da propriedade privada, tão caro aos princípios jurídico-políticos da nossa república burguesa e cortesã.

Como pancadas dadas e palavras ditas não há quem as tire, e sendo também impossível coibir o que se reproduz informal e ofensivamente nas rodas jornalísticas, resta-nos realçar e alargar as expressões de solidariedade ao juiz Nilson Nery Guerra e o apoio às iniciativas aqui propostas nos terrenos legal e administrativo – a Lei do Livre Xixi e o Júris-Xixi-Móvel.

Finalizo com a certeza plena de que, na vida social, também é uma grande obra cuidar do xixi e/ou do cocô das pessoas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Novas Profissões

Marcelo Mário de Melo

O desenvolvimento da economia e da politicagem coloca em extinção muitas categorias profissionais, recicla e cria uma série de outras. Para as extintas, um minuto de silêncio. Quanto às novas, destacamos algumas que nos parecem altamente expressivas, sintomáticas, emblemáticas e idiossincráticas.

Cientista político – Está autorizado a passar opinião por teoria e concorre com os jogadores de futebol na distribuição de chutes.

Consultor – Especializado em ouvir o cliente sobre o que ele sabe e concluir que não sabe de nada. Sempre elabora um diagnóstico do já conhecido e um requintado (e requentado) elenco de medidas óbvias.

Cenarista – Aquele que, consultando as obras de ficção científica, o horóscopo e o Livro de Nostradamus, sem esquecer os búzios, a leitura de mão e os dadinhos, desenha cenários otimistas, pessimistas e mistos, para todos os fins, sem nenhum compromisso com os resultados e segundo o perfil do contratante.

Cerimonialista – É o tradicional apresentador de evento, agora com denominação mais requintada devido à entrada de socialaites na área.

Parecerista – Precursor do Ghost Wrigte, é a mão oculta de chefes ou profissionais incompetentes ou preguiçosos.

Eventólogo – Cuida da organização de eventos, nada produz e gosta de ser chamado de produtor. Especialista na arte de juntar gente à base da política de circo sem pão.

Podólogo – Não tem nada a ver com poda de árvore e assemelhados. É o profissional que trata dos pés: calo seco, pé chato, joanete, unha encravada e chulé.

Esteticista – Segmento dos membros não aprovados nos testes para maquiador, que organizaram mercado e marketing próprios.

Promoter – Assemelhado ao eventólogo e vinculado a uma instituição. Geralmente, do sexo feminino.

Dsigner-gráfico – É o antigo desenhista industrial batizado com nome estrangeiro a partir da regulamentação profissional e depois de tirar do páreo os arquitetos que invadiam o pedaço.Considera-se ofendido ser for chamado de desenhista gráfico ou programador visual.

Acompanhante – Setor derivado da prostituição, podendo incluir a prestação de serviços sexuais ou, apenas, o acompanhamento puro e simples de figurões ou figuronas com necessidade de aparecer formando casal.

Depilador pubiano – Ramo derivado de uma mistura das técnicas de cabeleireiro, tatuador e massagista. Uma pesquisa em textos publicitários distribuídos mão-a-mão, revelou a existência de salões e salinhas com profissionais de ambos os sexos, especializados em modelos da mais ampla variedade: afro, peladinhos, semi-pelados, trancinhas, lavagens, permanentes, tinturas, alisamentos e encrespamentos, mechas, rinsagens, frisagens, grisalhagem, brilho, tonalização e desenhos feitos com raspagens.

Testa-de-ferro – Aquele que responde legal e frontalmente por negócios e mandos pertencentes a algum poderoso, a quem não é conveniente a presença ostensiva ou oficial nas demandas. Precursor do agente laranja.

Laranja – Agente especializado em operações financeiras.Integra a diretoria ou assume a titularidade de empresas-fantasma ou reais, com a finalidade de viabilizar negócios a serviço de interessados ocultos. Trata-se de uma derivação do testa-de-ferro.

Lobysta autônomo – Atua como espécie de “free lancer”na liberação de recursos ou na articulação de contatos junto a órgãos de governo.

Assessor – Antigamente, e segundo o Dicionário Aurélio, era alguém que prestava algum serviço especializado. Na modalidade pós-moderna, esta exigência foi relativizada, notadamente no setor público, podendo ser encontrados os assessores-acessórios, sem nenhum conhecimento específico, vulgarmente chamados de aspones - assessores de porra nenhuma.Nesta categoria, convém ressaltar no segmento um relevante esforço de criatividade no sentido de exercer ou demonstrar alguma utilidade.Muitos aspones se transformaram em verdadeiros agentes de acessibilidade e acompanhamento, desdobrando-se em abrir e fechar portas de sala e de carro, puxar conversas em ante-sala, cercar visitantes, sentar em mesa de reunião fazendo rabiscos, acessar o chefe e compor o seu contingente de acompanhantes em visitas, comilanças, homenagens e cerimônias de inauguração.

Candidato profissional – É o funcionário público que se candidata a algum cargo parlamentar com a finalidade de gozar da licença ou trabalhar como cabo eleitoral na campanha de um terceiro.

Segurador de pau – Especializado em segurar faixa, cartaz ou bandeira em ponto fixo, caminhada ou comício

Garrafa – É aquele filiado de partido político que tem a função de assegurar o quorum nas convenções oficiais, ocasião em que é rebocado e alimentado para marcar presença e votar segundo a receita. Comparado às garrafas vazias que se juntam para compor as grades de cerveja.

Ghost wryte – É o velho escriba de aluguel com novo nome. Guarda semelhança com o intérprete, o ventríloquo e o personagem-escada, exceto na condição de ser um agente rigosamente oculto. A discrição é o seu atributo essencial para repassar ao contratante a autoria dos seus textos e fidelizar a clientela.

Camorim – É o candidato a vereador com pequena quantidade de votos

Camorim ovado – É o candidato a vereador que se aproxima dos mil votos ou ultrapassa esse patamar, o que não é suficiente para ser eleito, mas ajuda a somar votos na legenda e eleger os candidatos preferenciais.

Pau-no-cu – É o militante que sempre atua em condições subnormais de apoio e retorno, mas continua carregando a sua bandeira – ou sua cruz.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Lançamento de Livro de Cordel

Sábado, a partir das 12.30, o poeta Vinícius Gregório lança no Recife o livro Hereditariedade. No Mercado da Madalena, Box Sertanejo.

Quem o Fará?

Marcelo Mário de Melo

Purgar os erros.
Lembrar os mortos.
Fecundar os sonhos.
Festejar as vitórias.

Se não fizermos isto
pela nossa causa
quem o fará?

Luciano Siqueira Comemora Eleição a Vereador

'"Uma conquista construída com tantos sonhos e com o trabalho de tantas mãos merece ser comemorada". Dia 10, sexta-feira, às 18 horas. No comitê eleitoral, na Rua Amaro Bezerra, 419 - Derby, Recife-PE . Estarei lá.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Cordel - Coletânea e Palestra

Na quarta-feira 9 -10, às 17 horas, no Porto das Letra, Av. Rio Branco 76, no Porto das Letras, a Gerência Operacional de Literatura e Editoração da Prefeitura do Recife lança a primeira edição da coletânea Arrecifes de Cordel. Movimentos Sociais. Trabalhos de Allan Sales, Altair Leal, Dionísio de Souza, Felipe Júnior, José Honório, Marcelo Mário de Melo, Marcelo Soares, Mariane Bigio, Paulo Moura e Suzana Morais

Participarei de roda de conversa em torno do tema O Cordel e o Engajamento Social.

A minha participação na Coletânea se deu com o folheto A História do Poeta que Sonhava Ser Bancário, de 1980, que compôs com outros três folhetos a peça O Macaco Misterioso, encenada pelo grupo Corpo e Cena, do Sindicato dos Bancários, com direção de José Francisco e apresentações em todas as capitais do nordeste.

Reduzido a 20 estrofes para a inserção na Coletânea, o texto está aqui disponível na íntgra.

O folheto:

Desde menino eu sonhava
em sonhar e ser bancário.
Mas por uma coisa ou outra
mudou meu itinerário.
Em camelô e poeta
terminou o meu fadário.

[Leia em Cordel MMM]

Mulheres, Múltiplas Mulheres

Marcelo Mário de Melo

[À minha filha, Lara, nos seus 10 anos]

Mulher
Mulherio
Mulherada

Menina
Moça
Matrona

[Leia em PoeMMMas]

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ganhar com a Crise

Frederico Katz

[Economista e Consultor do NEAL - Núcleo de Estudos para a América Latina/Universidade Católica de Pernambuco]

A crise econômico/financeira que, em maior ou menos intensidade, envolve o mundo todo, deve servir, quando menos, para nos ensinar algumas lições. Seguem-se quatro notas sobre o tema. São constatações e possíveis respostas a questões ainda controversas. Leia em Colaborações.

O Juíz e a Sentença Ante o Poder do Dinheiro

O juiz caiu na lama
com sua honra e sabença.
Expôs-se à corrupção
e contraiu a doença.
Quatro milhões em um cheque
foi o preço da sentença.

(Leia na íntegra em Cordel)

Propaganda e Contrapropaganda

Marcelo Mário de Melo

Passadas as eleições, e tomando como referência o Recife, cabem alguns questionamentos sobre estratégia de propaganda, independentemente dos resultados dados e sem a escravização ao raciocínio comodista do “se ganhamos, é porque tudo estava certo e nada mais se deve discutir”.

E por que não admitir a hipótese de que a vitória, mesmo expressiva, poderia ter sido mais ampla? E se nós tivéssemos ido para o segundo turno? É importante ter clareza sobre este aspecto, porque, nem sempre, estaremos em situação de franca superioridade, como agora. E numa situação marcada pela inferioridade ou o equilíbrio de forças, acentua-se a importância de explorarmos ao máximo as potencialidades político-propagandísticas existentes.

Em caso de candidatura a reeleição, é natural que se dê ênfase à necessidade de dar continuidade à gestão, ressaltando as suas ações e propostas de avanço. Assim como, se estamos na oposição, devemos ressaltar a superioridade das nossas propostas. Isto é propaganda.

Mas num caso e noutro, é necessário desmontar a credibilidade das propostas e da imagem publicitária do campo adversário, principalmente, expondo a contradição entre a sua fala e os seus feitos. Isto é contrapropaganda. Aspecto que em nenhum momento deveria ser subestimado, como vem ocorrendo nas campanhas eleitorais nos últimos tempos.

Propaganda e contrapropaganda são como dois pés compondo passos na mesma trajetória e nenhum deles dispensa o outro. Mesmo que se admita a diferença de peso entre eles, em cada circunstância concreta.

Se neglicenciamos a contrapropaganda, é possível que a proposta ou a afirmativa x ou y, vinculada a propaganda adversária, agregue pontos que não lhe seriam tributados, se tivesse sido enfrentada adequadamente e a tempo.Num primeiro turno, isto pode parecer irrelevante. Mas num segundo turno, todas as parcelas são canalizadas para um somatório geral em que resultam só duas forças, dois candidatos.

Como exemplo, a proposta do Compaz, disseminada pelo candidato Raul Henry. Para abalar a sua credibilidade, bastaria apresentar uma notícia de jornal, do ano 2000, onde Raul, como secretário de Jarbas Vasconcelos, ao lado do comandante da PM, anuncia a formação de 332 Núcleos de Segurança Comunitária. Isto, fazendo-se o contraponto com os minguados 32 Núcleos criados nos oito anos das duas gestões jarbistas. Poderia citar dezenas de exemplos como este.

A questão da contrapropaganda foi devidamente equacionada pelo mestre Jean-Marie Domenach no seu livro referencial A Propaganda Política. E sempre será útil recolher os seus ensinamentos. Para que possamos aumentar o volume dos frutos nas nossas colheitas político-propagantísticas.



sábado, 4 de outubro de 2008

Hai kai

PARTIDO POLÍTICOS:
EVENTOS ELEITORAIS.
E O QUE FAZEM MAIS?
(MMM)

As Eleições e os Poderes

As instituições da república brasileira são fortemente marcadas pela tradição da escravatura e da corte portuguesa, caracterizando o que se pode chamar de república imperial e cortesã.
O Poder Executivo é muito centralizado e o presidente, chefe da nação e chefe do governo, detém alguns atributos de um monarca. Mas, salvo as largas exceções das investiduras ditatoriais, os presidentes são escolhidos por eleições, passam pelo controle do Legislativo e podem ser destronados por processos de impeachement, como ocorreu com Fernando Collor de Mello.
O Poder Legislativo também é super-poderoso e prenhe de privilégios de casta, constituindo a arena em que despontam com mais evidência a desqualificação e as deformações do processo político brasileiro. Mas os parlamentares são escolhidos pelo voto, estão muito expostos à crítica pública e, de vez em quando, assistimos a processos de apuração de responsabilidades que resultam em cassações de mandatos.
Os membros do Poder Judiciário são vitalícios e, diferentemente do Executivo e do Legislativo, estão acima de qualquer controle público. Como na tradição judaico-cristã Moisés recebeu as taboas da lei diretamente de Deus, restou aos juízes e promotores a aura de representantes terrenos do Altíssimo, situados no olimpo e preservados de quaisquer influências dos simples mortais.
No momento eleitoral, todas as mazelas da república vêem à tona, pois é nele que os governantes e os parlamentares se empenham em renovar os seus e/ou os mandatos dos seus aliados. Trata-se de um vale-tudo, que o poeta Henri Heine, numa metáfora eqüina, comparou a uma corrida de pangarés. E são muitos pangarés com fantasia de puro-sangue, mostrando-se com as maquiagens do marketing.
Embora não seja submetido aos processos de seleção e escolha, o Poder Judiciário também desponta nesse momento. São exigidos os cuidados específicos da Justiça Eleitoral e a disputa pelo voto apresenta a sua face de guerra jurídica, gerando ações judiciais de todo o tipo. Os representantes da justiça também ocupam o centro da cena e se colocam na linha dos refletores, expondo o seu plantel de pangarés e puros-sangues.
Humano, demasiadamente humano.
Político, demasiadamente político

Pixema

DÊ VOTO
SEM SER
DEVOTO!

(MMM)