sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

1968 em Debate no Recife

No sábado 13 de dezembro, no Teatro Apolo, R. do Apolo 103, Recife, das 15 às 18 horas, promoção do Centro Josué de Castro, será realizada a mesa-redonda 1968 em Questão. Os palestrantes serão Denis Bernardes, Fred Katz, José Arlindo Soares e Marcelo Mário de Melo.

A idéia de realizar o debate nasceu na reunião de 2008 de antigos presos políticos, exilados e militantes de esquerda de Pernambuco, residentes em diversos estados do País e vinculados a diversas tendências políticas, que há cinco anos realizam um almoço de confraternização no Recife, no dia de quarta-feira de cinzas. O Centro Josué de Castro se integrou e assumiu oficialmente o evento.

No dia 13 de dezembro, há 40 anos, o Governo Militar decretava o Ato Institucional número 5, que marcou os anos de chumbo da repressão sobre os movimentos sociais que se insurgiam contra a Ditadura. Entre perdas e ganhos, os movimentos sociais foram definindo seus objetivos e suas bandeiras de luta, algumas das quais congregaram amplas parcelas da sociedade brasileira e resultaram em conquistas importantes, como foram as lutas pelas Eleições Diretas e pela Anistia. 1968 foi também um ano paradigmático na história de vários países que deflagraram lutas libertárias e por mudanças culturais.
QUEM O FARÁ?
Marcelo Mário de Melo
Purgar os erros.
Lembrar os mortos.
Fecundar os sonnhos.
Festejar as vitórias.
Se não fizermos isto
pela nossa causa
quem o fará?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Historiador lança livro sobre o Ginásio Pernambucano


O Ginásio Pernambucano nos anos 1950 é o título do livro de Geraldo Barroso Filho, edições Livro Rápido, que será lançado na próxima quarta-feira-10, às 19h, na Livraria Cultura. O texto reproduz a tese de doutoramento do autor, defendida na Faculdade de Educação da USP, tratando do ensino secundário em Pernambuco nos anos 1950/60 e tendo como núcleo central da pesquisa o centenário Ginásio Pernambucano.

O livro está organizado em três capítulos. O primeiro aborda a escola secundária no Brasil, fazendo uma revisão da literatura contemporânea que tinha o ensino secundário como tema. O segundo trata do estudo do ensino secundário em Pernambuco nos anos 1950/60. O terceiro é dedicado inteiramente às memórias do ensino do Ginásio Pernambucano. Aí o autor articula a síntese da literatura disponível, inclusive jornais, com os depoimentos coletados entre alunos e professores.

Nas suas conclusões, são colocadas em questão as especificidades da formação escolar do período estudado e se consideram as expectativas acerca do papel que a escola pública desempenha na atualidade.

O autor - Geraldo Barroso Filho é professor do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, com mestrado, doutorado e pós-doutorado. Ensinou em escolas públicas e privadas no Rio de Janeiro, entre 1972 e 1978. Carioca, mora no Recife desde o final de 1978 , onde ensinou em diversas escolas do ensino básico, com experiência também em Olinda. Foi diretor do Sindicato dos professores e da Associação dos Docentes da UFPE.

SERVIÇO

O QUÊ – Lançamento do livro Memórias Escolares do Recife: O Ginásio Pernambucano nos anos 1950
QUANDO - 4ª Feira, 10 de dezembro 2008
ONDE – Livraria Cultura, Recife Antigo

Contato
Geraldo Barroso
Fones: 326500302 – 91193134 - 87423134
e-mail: gebafi@gmail.com


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Solidariedade a Vanuchi e Repúdio à AGU

Nota de solidariedade

As entidades abaixo assinadas manifestam integral e irrestrita solidariedade ao Ministro Paulo Vannuchi, que hoje sofre o constrangimento de ver a Advocacia Geral da União assumir a defesa de torturadores assassinos de presos políticos em frontal oposição à responsabilização e punição de torturadores e seus mandantes.
O Ministro Paulo de Tarso Vannuchi é um militante dos Direitos Humanos histórico e nunca vacilou na defesa da Democracia e da Justiça. Sua posição em defesa da responsabilização e punição de torturadores e seus mandantes é baseada na Lei e na visão universal de Justiça.
Fazer a defesa de torturadores é defender a tortura, garantir a impunidade, favorecer sua reprodução aos agentes atuais e incentivar sua prática nos dias de hoje.

Repudiamos a ação da AGU em defesa dos torturadores e exigimos uma urgente retratação pública de seu responsável.

Assinam
- Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo
- Grupo Tortura Nunca Mais - São Paulo
- Associação dos Anistiados e Aposentados do Estado de São Paulo
- Grupo Tortura Nunca Mais - Paraná
- Comissão de Familiares de Presos Políticos Mortos e Desaparecidos
- Fórum de Anistia e Reparação do Estado do Rio de Janeiro
- Instituto Sedes Sapientiae
- ADNAM - Associação Democrática e Nacionalista dos Militares
- Comitê Catarinense Pró Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos
- Memorial dos Direitos Humanos – Santa Catarina
- Observatório das Violências Policiais – São Paulo

Nota de repúdio

As entidades abaixo-assinadas manifestam seu mais veemente repúdio à posição adotada pelo Advogado Geral da União, José Antônio Dias Tóffoli, em defesa dos agentes torturadores. Tal posição vai em sentido contrário dos anseios da Sociedade Brasileira, que exige apuração, responsabilização e punição de autores e mandantes de torturas contra presos políticos durante a ditadura militar.
As alegações da AGU servem de argumentos para a defesa dos torturadores e coloca a sociedade brasileira na condição de refém de criminosos impunes e acima da Lei. Essa impunidade é um convite a novas agressões aos direitos humanos por outros agentes do Estado atual.
Exigimos que a Advocacia Geral da União faça uma retratação pública de sua posição equivocada e se coloque ao lado da Justiça e da Verdade, contra a tortura e os torturadores.

Assinam:
- Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo
- Grupo Tortura Nunca Mais - São Paulo
- Associação dos Anistiados e Aposentados do Estado de São Paulo
- Grupo Tortura Nunca Mais - Paraná
- Comissão de Familiares de Presos Políticos Mortos e Desaparecidos
- Fórum de Anistia e Reparação do Estado do Rio de Janeiro
- Instituto Sedes Sapientiae
- ADNAM - Associação Democrática e Nacionalista dos Militares
- Comitê Catarinense Pró Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos
- Memorial dos Direitos Humanos – Santa Catarina
- Observatório das Violências Policiais – São Paulo

MMM fala sobre Josué de Castro na FGV

No próximo dia 24 estarei participando na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, do seminário O Brasil Em Evidência: A Utopia do Desenvolvimento, na mesa redonda em torno do pensamento de Josúé de Castro. Será editado um livro com os trabalhos apresentados durante o seminário.

Jonas: o sentido simbólico

Marcelo Mário de Melo

Em 1964 havia no Colégio Estadual de Pernambuco – CEP, antigo Ginásio Pernambucano, no Recife, uma base do Partido Comunista Brasileiro com 25 jovens militantes, homens e algumas mulheres. A ação política se desdobrava nas reivindicações locais, nas campanhas pelo diretório estudantil e nas disputas com a direita em torno das entidades municipal e estadual dos secundaristas: a Associação Recifense dos Estudantes Secuncários – ARES e o CESP – Centro dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco.

Os estudantes também eram convocados a atuar nas campanhas eleitorais e em mobilizações vinculadas às bandeiras políticas da época. Defendíamos as reformas de base, entre elas a reforma agrária, a reforma urbana, a reforma do ensino. Éramos pelo direito de voto para os analfabetos e cabos das forças armadas. Combatíamos o colonialismo e as ditaduras no mundo, com destaque para a libertação das colônias africanas, as ditaduras de Salazar em Portugal, Franco na Espanha e Strossner no Paraguai. Defendíamos ardorosamente a jovem revolução cubana e, muitas vezes, participávamos de atos públicos, panfletagens e pichações em defesa de Cuba, contra as ameaças e as tentativas de invasão comandadas pelo imperialismo norte-americano, então sob a batuta do bonitão John Kennedy.

Na base do CEP havia um grupo de companheiros que participava do Clube Literário Monteiro Lobato, o famoso CLML, que ativava um concurso permanente de crônicas, tinha reuniões sistemáticas, possuía centenas de filiados de diversos colégios e chegou a publicar alguns números do jornal Juvenília, inviabilizado a partir do golpe de abril de 1964. O CLML tinha uma grande força atrativa entre os secundaristas mais novos. Os seus integrantes comunistas formavam um grupo com identidade própria, inclusive, com uma organização de base específica, vinculada ao Comitê Secundarista. Jonas fazia parte desse grupo, juntamente com David Capistrano Filho, Francisco de Assis Barreto da Rocha, Amaro Quintino, Dmitri e outros companheiros.

Eu não tinha muita aproximação com Jonas. Convivia com ele nas reuniões e o encontrava constantemente nas agitações de rua e em eventos políticos. Via-o muito ao lado de Davizinho, outras vezes com Davizinho e Rosa Barros, que participava da base do Colégio Estadual do Recife, de alunado feminino, e, como ele, morava no bairro de Santo Amaro. Tinha maior aproximação com o seu irmão mais velho, Carlos Augusto, que participava da base do CEP e chegou a disputar a presidência do diretório.

No dia 1º de abril de 1964, no meio da tarde, saímos em passeata da Escola de Engenharia, na Rua do Hospício, em direção ao Palácio das Princesas, cercado por tropas verde-oliva, para defender o governo de Miguel Arraes. Quando estávamos na altura da Pracinha do Diário, no cruzamento com a Av. Dantas Barreto, em marcha passo de ganso, avançou contra nós um pelotão vindo das imediações do Palácio da Justiça, que começou a disparar, inicialmente, para cima. Depois foi baixando o ângulo até o nível dos manifestantes.

Alguns companheiros gritaram: "é festim"! Mas eu vi os pedaços de reboco caindo do alto de um edifício, sob o efeito das balas, e dei o grito de alarme: "não é festim, não! É bala!” Entre correrias e tiros, avistei o companheiro Oswaldo Coelho, que havia me recrutado para a base do CEP e agora estudava Direito, carregando um corpo masculino com um grande buraco se estendendo pelo pescoço, o queixo arrancado a tiros. Somente depois, no voltando para casa, soube que o ferido era Jonas.

Junto a Jonas também tombou o jovem Ivan Aguiar, comunista de nascença, filho de Severino Aguiar, que morreu na década de 90 com mais de noventa anos, ostentando o orgulho de ser o mais antigo comunista vivo do Brasil. Ivan havia sido aprovado no vestibular para engenharia e aguardava o momento de começar a fazer o curso. Já ferido, ele ainda conseguiu disparar um tiro de um revólver 38 que Antônio Florêncio, comunista de Palmares, recolheu e guardava como relíquia. A Ivan, um brinde pela iniciativa desse - lamentavelmente único - tiro dado em Pernambuco em defesa da democracia e contra os golpistas de 1964. Diz-se que, ao lado de Ivan e Jonas, também tombaram um homem desconhecido e uma funcionária da loja de produtos masculinos - Remilet - colhida por um tiro no seu local de trabalho, na Av. Dantas Barreto.

Aos 16 anos, depois de passar por três meses de prisão, quando perguntado, num inquérito, o que achava da "Revolução de 31 de Março de 1964", Davizinho respondeu que não poderia achar nada de bom, porque o seu pai estava sendo perseguido, ele fora preso e o seu melhor amigo havia sido morto. Em cartas a mim, na década de 1960, David se refere a momentos de profundo sofrimento pela perda de Jonas, denominando-os de "jonismo".

Vim saber mais de Jonas depois da sua morte. Li poemas seus. Apreendi a dimensão da sua amizade grudenta com Davizinho e Rosa, formando um trio inseparável. Rosa me disse que, pouco antes do golpe de 1964, ela e Jonas tinham ficado "de mal", por iniciativa dela e a partir de uma inconfidência de David, revelando-lhe segredo que Jonas lhe havia confiado.Rosa, que terminou namorando com David, num certo tempo alimentou por Jonas uma paixão nunca correspondida.

Um dia, em 1964, acompanhei numa homenagem a Jonas o poeta Albérgio Maia de Farias, também companheiro do PCB e das lutas estudantis. Na Galeria de Arte, da qual Jonas era freqüentador, na margem do Rio Capibaribe, em frente aos Correios, ele deixou pregado no mural um poema que começava assim: "Na Galeria de Arte/há um banco de saudade/e há gestos de futuro/quebrando a serenidade".

Jonas e Ivan Aguiar tiveram suas vidas interrompidas na juventude. Passaram à condição de referências simbólicas dos jovens que lutaram pela democracia e contra a implantação da ditadura de 1964. Transformaram-se em bandeiras de idealismo e resistência, tremulando nos nossos corações e apontando para a coerência dos nossos passos.
Comentário de Geraldo Maia
[Enviado por e-mail]
Caro Marcelo:
Parece que foi ontem. Ainda bem que os frutos de Jonas/Ivan nao apodreceram, pelo contrario, viraram pétalas que foram derramadas em uma estrada e estao servindo de sinalização para uma sociedade mais justa.
Abraço: Geraldo Maia
Comentário de Albérgio Maia de Farias
[enviado por e-mail]
Marcelo, com fidelidade aos acontecimentos, você mexe com as nossas memórias e com a nossa adormecida indignação. Certa vez lhe disse, e repito, que o Movimento Secundarista daquela época, puro na origem e nos objetivos, estava merecendo um livro e a pessoa mais indicada para fazê-lo era você. Continuo sem dúvida quanto a isso e, no que me for possível, pronto para ajudá-lo. Seu belo e comovente artigo me faz dizer que você é o nosso melhor sobrevivente.
Grande abraço, Albérgio.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Porta-Jóia

Marcelo Mário de Melo

Mote:
“VOCÊ NÃO USA CALCINHA
VOCÊ USA PORTA-JÓIA”
(Anônimo)

Coisa muito preciosa
precisa ser bem guardada:
o testamento o brilhante
o presente da amada
o bebê no seu bercinho
o plano da emboscada.

O guardado precioso
exige o trato devido:
recipiente adequado
e muito bem produzido
veludo seda e pelica
segundo o luxo contido.

Quem não guarda seus tesouros
pode ser prejudicado
passar por roubo ou desfalque
perder um ente amado
ficar sem noção das coisas
completamente pirado.

Você mulher-monumento
estrela e não jibóia
é joalheira zelosa
zelo não é paranóia
você não usa calcinha
você usa-porta-jóia.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Kenedysmo e Obamismo

Marcelo Mário de Melo

Sobre Obama bem ou mal
nada mais tenho a dizer.
Cada um diz o que pensa.
É assim que deve ser.
No final o rio dos fatos
vai dar o seu parecer.

Todos têm deixado claras
quais as suas posições:
esperanças otimismos
reservas e restrições.
O Bê-a-bá de Obama
vem tendo muitas lições.

Linha é linha ponto é ponto
isto é caso confirmado.
Triângulo não tem curva
nem circunfência lado.
Espiral não é elipse
nem pentágono quadrado.

No passado assisti
vibrações do "kenedysmo"
com a bonita Jacqueline
ajudando o estrelismo.
E agora advirto a todos
sobre os riscos do "obamismo".

Otimista eu não sou.
Nem também sou pessimista.
Procuro encarar os fatos
de maneira realista.
E a esperança crítica
é o meu ponto de vista.

Sem Oba-Oba a Obama

Marcelo Mário de Melo

Sou defensor do quanto melhor, melhor, e do quanto menos ruim, também.

Lembro da história dita da Bahia, do preso que vinha sendo arrastado por um policial que lhe me metia porrada. Um cidadão humanista, de um primeiro andar, interpelou: "Pare de bater no preso, não se faz isto com um ser humano; se quer matar, mate logo". Aí o preso levantou a cabeça e disse: "não te mete nisso, rapaz, que é melhor assim".

Quando andamos pela rua, faz grande diferença meter o pé em merda mole ou bosta seca.

O velho Bretch já dizia que com o salário do carrasco atrasando um dia, já se abria a possiblidade de algum acorto.

Não tenho nenhuma dúvida de que Obama foi a melhor alternativa, e que com a vitória do outro, seria muito pior. Apenas faço a distinção entre isto e as amplificações simbólicas acerca da sua negritude, transpostas para o terreno da política com tintas esquerdizantes e libertárias.

Pragmaticamente, recolho os resultados e mantenho o "distanciamento bretchiano".

Fui um daqueles - talvez ínfima minoria - que não teve nenhuma vibração especial pelo fato de o presidente eleito do Brasil ter sido um operário de macacão, atendo-me ao seu alinhamento político.

Em síntese: não curto oba-oba a Obama.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama Não me Ilude

Marcelo Mário de Melo

Obama não me ilude:
Bate a bola do império.
A cor negra não garante
Mudar a garra aviltante
A ação no hemisfério.

O bonitão Jonh Kennedy:
Bombas no Vietnan
Apoio a mil ditaduras
Mortes invasões torturas
A política malsã.

O negro que vai fazer
Briga de branco do império
Amenizando talvez
Minutos dentro de um mês
Agindo nesse critério.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ofício do Soneto

Marcelo Mário de Melo

Na arena dois quartetos dois tercetos
demarcam o terreno e a aventura.
Os lances da batalha se desenham
tendo como suporte essa ossatura.

O touro da medula expande impulsos
fúrias de medo rasgos de bravura.
Mas o toureiro se mantém contido
medindo em cada gesto a urdidura.

Aqui não há lugar à exuberância
comum a dançarinos e oradores
no empenho de encantar os circunstantes.

Manter em rédeas saltos e ardores
o ofício do soneto exige antes
a quem quiser trilhar a sua instância.

Recife, novembro, 2008

Haicai da AGU - Advocacia Geral da União

Marcelo Mário de Melo

Aqui se enclausura
Grito de luz e justiça.
Um brinde à tortura!

sábado, 25 de outubro de 2008

Libidinagem das Letras

Marcelo Mário de Melo

É grande o clamor do sexo
no país das letras nuas.
Conheci belas histórias.
Andei lá por muitas ruas.
E escrevo pra que elas sejam
tanto minhas quanto suas.

Vamos conhecer de perto
essa libido letrosa
que se abre aos nossos olhos
pedindo verso e não prosa
porque não tem o tijolo
os atributos da rosa.

Foi num dia iluminado
que tive o encantamento.
Quando estava lendo um livro
e parei por um momento
meus olhos foram colhidos
por um belo movimento.

Duas letras concentradas
trocavam beijos e abraços
numa página aberta
se misturando em amassos.
E caí embevecido
na trilha dos seus compassos.

Elas viram que eu vi
e não ligaram pra isso
seguindo na sua festa
alegres com muito viço
pois amar naquele instante
era o seu compromisso.

Depois chegaram pra mim
disseram: "muito prazer!
Somos do mundo das letras
venha ele conhecer.
Embarque na nossa nuvem
e vamos nos entender".

Segui assim a viagem
com as letras namoradeiras
conhecendo seus amores
seus costumes e fronteiras
que prometi escrever
com palavras verdadeiras.

Agora chegou a hora
de cumprir o prometido
passando para o papel
tudo o que foi assistido.
Que a libido das letras
me aqueça e dê sentido.

Vou correr o alfabeto
desde o A até o Z
descrevendo muitas cenas
desse amor do ABC.
Solte a imaginação
e se envolva no que lê.

O A se excita e avança
abrasado e com furor
olhando a bunda do B
que remexe sem pudor
pedindo que chegue logo
e seja seu invasor.

O C todo escandaloso
mostrando sua entradinha
pulsando no abrir/fechar
tomando a cena e a rinha
puxa o D para a cama
e ficam galo e galinha.

O E se esfrega todo
alisando com os três dedos
sussurando para o F
quentes safados segredos
querendo lhe cavalgar
sem restrições e sem medos.

O G chama de gostoso
o H à sua frente
beija-o com garra e com gula
chupando e ferrando o dente
dizendo que esta noite
quer tudo bem diferente.

O I comprido e esticado
vai chegando para cima
com aquele olho de fome
no J que se aproxima
e diz em tom de galhofa:
"ô que coisinha mais fina!".

O K com o Kama Sutra
e a cartola de Mandrake
diz que vai ser no capricho
sem agonia ou ataque
e despe as roupas do L
depois de tirar o fraque.

O M língua de fora
diz que só quer sexo oral.
Lambendo as linhas do N
faz o maior carnaval
dizendo que muita regra
na cama é um grande mal.

O O que é letra transeira
também não liga pra nada.
Gosta de curtir sem grilo
com festa e muita risada
e vai provocar o P
com uma saia rodada.

O Q diz que gosta um pouco
de curtir uma pancadinha.
Sadomasô controlado
sem risco e dentro da linha
pra levar o R às nuvens
sem deixar uma marquinha.

Rastejando como cobra
depois na ponta do pé
o S encanta a alcova
dança com fogo e com fé
E o T maravilhado
vai à sua Salomé.

O U se chega de leve
devagar muito jeitoso
porque o V letra virgem
está meio temeroso
pergunta se vai doer
e se vai chegar ao gozo.

O W é meio esquisito
e pede coisas estranhas
a um X muito manjado
sabedor das artimanhas
que se enrosca no seu corpo
com mil agrados e manhas.

O Y é um grande voyeur
num mirar que não se cansa
lambendo o Z com os olhos
na sua ardorosa dança
que nunca pode faltar
no amor e na festança.

Mergulhei e nadei mundos
Atrás das letras transeiras.
Recolhi suas lições
Curti suas brincadeiras
E vi as forças do sexo
Livres leves sem complexo
Onipresentes e inteiras.

Mar da libido das letras:
Abre as águas aos humanos!
Robustece suas vidas.
Instila em camas sofridas
O sal e o sol sem enganos.

De A a Z com alegria
Encantando e indo fundo

Mostram as letras que vivem
E curtem sexo profundo
Lançando em novas leituras
Os alfabetos do mundo.

Comentário de Nelly de Carvalho
- linguista de professora da UFPE

Marcelo
Uma beleza de texto, criativo, original.
Parabéns
Nelly

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Acróstico Verde-Oliva e Cinza

Marcelo Mário de Melo

Girassol na mini-tanga.
Assina a ficha petista.
Bate à porta do PV
E vira alkminzista.
Instila um tom verde-oliva.
Retoma a "moral" nativa.
A UDN é a pista.

DECLARAÇÃO DE VOTO

Se estivesse no Rio, votaria nulo.

MMM




terça-feira, 21 de outubro de 2008

Aniversário Jurídico-Urinário

Marcelo Mário de Melo
Completa hoje um ano que o meritíssimo juiz Nilson Nery Guerra foi flagrado no Recife urinando a céu aberto, no estádio do Clube Náutico Capibaribe, durante um jogo, quando recebeu voz de prisão em flagrante e apresentou a sua respeitável carteira de magistrado.
A partir daí correu - ou andou - no Tribunal de Justiça um processo disciplinar interno, que não se sabe em que passo anda ou se já deixou de andar. O fato foi noticiado discretamente na imprensa escrita, mas ocupou largos espaços em numerosos comentários agressivos e jocosos nos blogs de notícias.
Ante o ocorrido, postei aqui um texto expressando solidariedade ao juiz e propondo medidas legais e administrativas para o enfrentamento de situações semelhantes em níveis mais elevados, sob o título de Solidariedade Retroativa. Confira nesta página em Matérias Anteriores

Margarida Cantarelli: uma juíza de direito e de direita

Marcelo Mário de Melo

Em rodas políticas de esquerda transparecem aflições em face de o recurso apresentado pela defesa de João da Costa contra a decisão do juiz de primeira instância que cassou a sua candidatura e suspendeu os seus direitos políticos por três anos, ter caído para ser relatado nas mãos da desembargadora Margarida Cantarelli, membra (*) do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, conhecida pela sua intensa militância política de direita e notoriamente ligada ao senador Marco Maciel.

Vamos procurar analisar com objetividade esta questão.

Em primeiro lugar, não é de se estranhar que, num regime capitalista, os poderes públicos sejam majoritariamente compostos por pessoas de direita, nas gradações possíveis dos mais rançosos aos mais moderados. Trata-se de uma coisa normal. E no caso brasileiro, isto é mais normal ainda, se considerarmos que a nossa saída da ditadura de 1964 para a democracia elitista atual foi marcada pela “transição transada”, com a eleição indireta no colégio eleitoral, a “anistia recíproca” inocentando torturadores de crimes pelos quais nunca foram julgados, a manutenção da Lei de Segurança Nacional, o voto vinculado e outros monstrengos.

E se defendemos a democracia, também não podemos nos espantar com a existência de direitistas nos três poderes. Que eles existam sem risco e em paz. Diferentemente do que se fez durante as ditaduras brasileiras, impedindo e criminalizando a organização e a expressão política das forças de esquerda, demitindo, cassando, processando, prendendo e torturando pessoas por terem essa filiação político-ideológica. E aqui um voto de solidariedade e louvor a todos os juízes, promotores, desembargadores e ministros dos tribunais superiores que foram demitidos, aposentados e cassados e presos pelos atos de força da ditadura. E àqueles que continuaram resistindo nos limites possíveis do Poder Judiciário.

Quanto ao perfil de direita da desembargadora, também nada a estranhar. Filiada à antiga Arena, depois passando ao PDS e ao PFL, ela foi secretária da casa civil de Marco Maciel, governador biônico, de 1979 a 1985. Em 1990 foi chefe de Gabinete de Maciel no Ministério da Educação, governo de José Sarney. Em 1986 foi candidata a senadora na chapa de José Múcio Monteiro, candidato a governador de Pernambuco derrotado por Miguel Arraes. De 1997 a 1999 ocupou a secretária de Educação, com Roberto Magalhães na Prefeitura do Recife. E nesse ano, sendo Maciel o vice-presidente da república, no governo de Fernando Henrique Cardoso, por sua indicação, foi nomeada para o Tribunal Federal de Recursos.

Evidentemente, tratou-se de uma escolha política. Coisa que reflete uma deformação na relação entre os poderes no Brasil. Representa uma ingerência abusiva do Executivo sobre o Judiciário.Gera fidelidades políticas que pressionam negativamente a isenção no ato de julgar. O Poder Judiciário, pura e simplesmente, deveria eleger a lista tríplice e realizar um sorteio para a indicação do escolhido, devendo o Poder Executivo, apenas, ser informado a respeito.

Ante as circunstâncias, resta indagar se o fato de a desembargadora ser políticamente de direita a impede de julgar direito. E aqui não me aventuro a emitir nenhum crédito de confiança ou de desconfiança, pelo caráter de subjetivismo e preconceito aí contido. Teria de percorrer os territórios da ficção e imagina-la recebendo pedidos, sugestões e até pressões de antigos companheiros de militância pefelista de todos os quilates. Teria de, sem conhecê-la de perto, tecer fantasias sobre as suas reações. O que seria um pecado contra a objetividade analítica, por parte de quem é adepto do Realismo Pus e Seiva, que consiste em encarar o real tal qual viceja ou apodrece, negando os exercícios de copidescagem da realidade.

Posto isto, admitamos não ser impossível um julgamento isento por parte da desembargadora. Tecido com a resistência à ideologização, o sentimento de justiça e o apego à substância jurídica dos fatos.

Na história recente do Brasil, há aqueles que assumiram atitudes de serviçais da tirania, do poder econômico ou do conservadorismo - médicos que assinavam óbitos falsos a serviço dos torturadores e juízes que firmavam sentenças encomendadas pelos coronéis. Mas há também os exemplos de atitudes dignas, inclusive em situações de conflito e sob pressão, por parte de pessoas com perfil de direita ou conservador.

O Brigadeiro Eduardo Gomes, direitista e apoiador do golpe de 1964, solidarizou-se com o Capitão Sérgio, do PARASAR, contra o reacionarismo sanguinário do Brigadeiro Burnier. Temendo que ele fosse alcançado pelas malhas da repressão política, um deputado da ARENA, em 1968, abrigou na sua casa o jovem comunista do PCBR, Paulo Pontes, no dia em que disputara com o seu filho, e perdera, a eleição para o diretório do Colégio Estadual de Pernambuco. Quem acabou em Pernambuco com a indecente pensão vitalícia para ex-governador – que Miguel Arraes rejeitou - foi o direitista Roberto Magalhães, no seu governo nos anos 1983 a 1986.

Quando estava recolhido em cela do Esquadrão Dias Cardoso, quartel de cavalaria, no Recife, bairro do Bonji, em 1975, juntamente com o companheiro Luciano de Almeida, durante uma greve de fome, um dia um tenente da PM, recém-saído do forno, ao lado de outro, à porta da nossa cela declarou com firmeza, olhando nos olhos: “somos contra vocês e apoiamos o governo, mas somos contra a tortura”.

A realidade é complexa. O telescópio do mundo não é um talo de mamão. E para esclarecer os fatos, acima de todas as hipóteses, nada como um dia atrás do outro e uma noite no meio. O tempo é de espera.

(*) “ Membra – mulher que participa de um corpo social, político ou administrativo, ou de um grupo que tem atividades, interesses e objetivos comuns” (Dicionário Houaiss, Edição 2004)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Solidariedade Retroativa

Marcelo Mário de Melo

“A justiça tarda, mas não falha”, diz o dito popular. A solidariedade também, acrescento eu, no momento em que deixo expressa a minha mais irrestrita solidariedade ao juiz Nilson Nery Guerra, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, da 7ª Vara da Capital, pelas razões que esclareço a seguir.

O fato é que o excelentíssimo juiz sofreu uma séria ofensa, quando, num jogo de futebol, no estádio do Clube Náutico Capibaribe, na tarde do domingo 21 de outubro de 2007, foi abordado por um policial e tomado como um indivíduo reles e indecoroso, no momento em que urinava a céu aberto, premido por necessidade fisiológica incoercível.

O juiz reagiu à altura, exibindo a sua carteira de magistrado e fazendo retomar à sua insignificância aqueles que o abordaram. O fato chegou às folhas dos jornais e aos blogs de notícias em matérias de tom picante e depreciativo daquela autoridade, que passou também a ser objeto de um processo disciplinar que tramita em rigoroso sigilo, como é comum no âmbito da corporação judiciária.

Pior do que isto foi o tratamento jocoso que, a partir daí, passou a ser dispensado ao juiz nas conversas de redação e nos bate-papos de bastidores entre os profissionais da imprensa escrita, falada, televisada e internetizada. Basta dizer que, quando chegam aos veículos notícias envolvendo o juiz, ele sempre é referido com o epíteto de “o juiz mijão. “Notícia com o juiz mijão” – esta é a cantilena que o envolve.

E que não se venha justificar essa denominação ignominiosa, argumentando com a tirada do escritor Ariano Suassuna em suas aulas-espetáculos, dizendo que não fala de ninguém pela frente, porque isto é uma falta de educação, só o fazendo pelas costas.

É evidente que o mestre Ariano disse isso em tom de blague, ou simplesmente incorporando o personagem Xicó, do O Auto da Compadecida, síntese literária dos presepeiros nordestinos João Grilo, Canção de Fogo e Pedro Malasartes.

No momento em que expresso minha solidariedade ao ofendido e injustiçado juiz Nilson Nery Guerra, aproveito para lançar a proposta de que seja elaborada, com alcance jurídico nacional, a Lei do Livre Xixi, valendo para todos/as mortais.

O novo dispositivo legal levaria ao equilíbrio necessário entre as exigências da lei e as ordens da necessidade, dando cobertura àqueles e àquelas que, nos limites das suas inadiáveis urgências fisiológicas, se vêem obrigados(as) a urinar a descoberto. Com isto se evitaria que passassem pelos constrangimentos impostos ao excelentíssimo juiz supramencionado.

Mas independentemente desse dispositivo legal, o Tribunal de Justiça de Pernambuco ou a Associação dos Magistrados poderia se antecipar com uma ação administrativa de indiscutível operacionalidade, mandando fabricar o Júris-Xixi-Móvel, equipamento composto de urinol e mini-cabine, de fácil e rápida montagem e carregado por uma moto, que acompanharia nas suas peregrinações de lazer os/as integrantes do poder judiciário, servindo-os/as nas suas urgências miccionais. E que se admita também a possibilidade de o equipamento ser ampliado, para poder atender a necessidades relativas a excrementos sólidos, o que asseguraria a competente isonomia escatológica e exigiria uma denominação mais abrangente, como por exemplo, Sanitas-Juris-Móvel.

A mim, que tenho me solidarizado com os protestos, as greves e as ocupações promovidas por estudantes, operários, sem-teto e sem-terra, lamentando neles, apenas, a exígua expressão quantitativa, e que também tenho apoiado as denúncias e manifestações em torno de atitudes ofensivas, preconceituosas e discriminatórias contra os mais diversos segmentos sociais, majoritários ou minoritários, não seria estranho expressar a solidariedade ao ilustríssimo juiz Nilson Nery Guerra, que no seu exercício mictório não chegou a arranhar o estatuto da propriedade privada, tão caro aos princípios jurídico-políticos da nossa república burguesa e cortesã.

Como pancadas dadas e palavras ditas não há quem as tire, e sendo também impossível coibir o que se reproduz informal e ofensivamente nas rodas jornalísticas, resta-nos realçar e alargar as expressões de solidariedade ao juiz Nilson Nery Guerra e o apoio às iniciativas aqui propostas nos terrenos legal e administrativo – a Lei do Livre Xixi e o Júris-Xixi-Móvel.

Finalizo com a certeza plena de que, na vida social, também é uma grande obra cuidar do xixi e/ou do cocô das pessoas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Novas Profissões

Marcelo Mário de Melo

O desenvolvimento da economia e da politicagem coloca em extinção muitas categorias profissionais, recicla e cria uma série de outras. Para as extintas, um minuto de silêncio. Quanto às novas, destacamos algumas que nos parecem altamente expressivas, sintomáticas, emblemáticas e idiossincráticas.

Cientista político – Está autorizado a passar opinião por teoria e concorre com os jogadores de futebol na distribuição de chutes.

Consultor – Especializado em ouvir o cliente sobre o que ele sabe e concluir que não sabe de nada. Sempre elabora um diagnóstico do já conhecido e um requintado (e requentado) elenco de medidas óbvias.

Cenarista – Aquele que, consultando as obras de ficção científica, o horóscopo e o Livro de Nostradamus, sem esquecer os búzios, a leitura de mão e os dadinhos, desenha cenários otimistas, pessimistas e mistos, para todos os fins, sem nenhum compromisso com os resultados e segundo o perfil do contratante.

Cerimonialista – É o tradicional apresentador de evento, agora com denominação mais requintada devido à entrada de socialaites na área.

Parecerista – Precursor do Ghost Wrigte, é a mão oculta de chefes ou profissionais incompetentes ou preguiçosos.

Eventólogo – Cuida da organização de eventos, nada produz e gosta de ser chamado de produtor. Especialista na arte de juntar gente à base da política de circo sem pão.

Podólogo – Não tem nada a ver com poda de árvore e assemelhados. É o profissional que trata dos pés: calo seco, pé chato, joanete, unha encravada e chulé.

Esteticista – Segmento dos membros não aprovados nos testes para maquiador, que organizaram mercado e marketing próprios.

Promoter – Assemelhado ao eventólogo e vinculado a uma instituição. Geralmente, do sexo feminino.

Dsigner-gráfico – É o antigo desenhista industrial batizado com nome estrangeiro a partir da regulamentação profissional e depois de tirar do páreo os arquitetos que invadiam o pedaço.Considera-se ofendido ser for chamado de desenhista gráfico ou programador visual.

Acompanhante – Setor derivado da prostituição, podendo incluir a prestação de serviços sexuais ou, apenas, o acompanhamento puro e simples de figurões ou figuronas com necessidade de aparecer formando casal.

Depilador pubiano – Ramo derivado de uma mistura das técnicas de cabeleireiro, tatuador e massagista. Uma pesquisa em textos publicitários distribuídos mão-a-mão, revelou a existência de salões e salinhas com profissionais de ambos os sexos, especializados em modelos da mais ampla variedade: afro, peladinhos, semi-pelados, trancinhas, lavagens, permanentes, tinturas, alisamentos e encrespamentos, mechas, rinsagens, frisagens, grisalhagem, brilho, tonalização e desenhos feitos com raspagens.

Testa-de-ferro – Aquele que responde legal e frontalmente por negócios e mandos pertencentes a algum poderoso, a quem não é conveniente a presença ostensiva ou oficial nas demandas. Precursor do agente laranja.

Laranja – Agente especializado em operações financeiras.Integra a diretoria ou assume a titularidade de empresas-fantasma ou reais, com a finalidade de viabilizar negócios a serviço de interessados ocultos. Trata-se de uma derivação do testa-de-ferro.

Lobysta autônomo – Atua como espécie de “free lancer”na liberação de recursos ou na articulação de contatos junto a órgãos de governo.

Assessor – Antigamente, e segundo o Dicionário Aurélio, era alguém que prestava algum serviço especializado. Na modalidade pós-moderna, esta exigência foi relativizada, notadamente no setor público, podendo ser encontrados os assessores-acessórios, sem nenhum conhecimento específico, vulgarmente chamados de aspones - assessores de porra nenhuma.Nesta categoria, convém ressaltar no segmento um relevante esforço de criatividade no sentido de exercer ou demonstrar alguma utilidade.Muitos aspones se transformaram em verdadeiros agentes de acessibilidade e acompanhamento, desdobrando-se em abrir e fechar portas de sala e de carro, puxar conversas em ante-sala, cercar visitantes, sentar em mesa de reunião fazendo rabiscos, acessar o chefe e compor o seu contingente de acompanhantes em visitas, comilanças, homenagens e cerimônias de inauguração.

Candidato profissional – É o funcionário público que se candidata a algum cargo parlamentar com a finalidade de gozar da licença ou trabalhar como cabo eleitoral na campanha de um terceiro.

Segurador de pau – Especializado em segurar faixa, cartaz ou bandeira em ponto fixo, caminhada ou comício

Garrafa – É aquele filiado de partido político que tem a função de assegurar o quorum nas convenções oficiais, ocasião em que é rebocado e alimentado para marcar presença e votar segundo a receita. Comparado às garrafas vazias que se juntam para compor as grades de cerveja.

Ghost wryte – É o velho escriba de aluguel com novo nome. Guarda semelhança com o intérprete, o ventríloquo e o personagem-escada, exceto na condição de ser um agente rigosamente oculto. A discrição é o seu atributo essencial para repassar ao contratante a autoria dos seus textos e fidelizar a clientela.

Camorim – É o candidato a vereador com pequena quantidade de votos

Camorim ovado – É o candidato a vereador que se aproxima dos mil votos ou ultrapassa esse patamar, o que não é suficiente para ser eleito, mas ajuda a somar votos na legenda e eleger os candidatos preferenciais.

Pau-no-cu – É o militante que sempre atua em condições subnormais de apoio e retorno, mas continua carregando a sua bandeira – ou sua cruz.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Lançamento de Livro de Cordel

Sábado, a partir das 12.30, o poeta Vinícius Gregório lança no Recife o livro Hereditariedade. No Mercado da Madalena, Box Sertanejo.

Quem o Fará?

Marcelo Mário de Melo

Purgar os erros.
Lembrar os mortos.
Fecundar os sonhos.
Festejar as vitórias.

Se não fizermos isto
pela nossa causa
quem o fará?

Luciano Siqueira Comemora Eleição a Vereador

'"Uma conquista construída com tantos sonhos e com o trabalho de tantas mãos merece ser comemorada". Dia 10, sexta-feira, às 18 horas. No comitê eleitoral, na Rua Amaro Bezerra, 419 - Derby, Recife-PE . Estarei lá.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Cordel - Coletânea e Palestra

Na quarta-feira 9 -10, às 17 horas, no Porto das Letra, Av. Rio Branco 76, no Porto das Letras, a Gerência Operacional de Literatura e Editoração da Prefeitura do Recife lança a primeira edição da coletânea Arrecifes de Cordel. Movimentos Sociais. Trabalhos de Allan Sales, Altair Leal, Dionísio de Souza, Felipe Júnior, José Honório, Marcelo Mário de Melo, Marcelo Soares, Mariane Bigio, Paulo Moura e Suzana Morais

Participarei de roda de conversa em torno do tema O Cordel e o Engajamento Social.

A minha participação na Coletânea se deu com o folheto A História do Poeta que Sonhava Ser Bancário, de 1980, que compôs com outros três folhetos a peça O Macaco Misterioso, encenada pelo grupo Corpo e Cena, do Sindicato dos Bancários, com direção de José Francisco e apresentações em todas as capitais do nordeste.

Reduzido a 20 estrofes para a inserção na Coletânea, o texto está aqui disponível na íntgra.

O folheto:

Desde menino eu sonhava
em sonhar e ser bancário.
Mas por uma coisa ou outra
mudou meu itinerário.
Em camelô e poeta
terminou o meu fadário.

[Leia em Cordel MMM]

Mulheres, Múltiplas Mulheres

Marcelo Mário de Melo

[À minha filha, Lara, nos seus 10 anos]

Mulher
Mulherio
Mulherada

Menina
Moça
Matrona

[Leia em PoeMMMas]

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ganhar com a Crise

Frederico Katz

[Economista e Consultor do NEAL - Núcleo de Estudos para a América Latina/Universidade Católica de Pernambuco]

A crise econômico/financeira que, em maior ou menos intensidade, envolve o mundo todo, deve servir, quando menos, para nos ensinar algumas lições. Seguem-se quatro notas sobre o tema. São constatações e possíveis respostas a questões ainda controversas. Leia em Colaborações.

O Juíz e a Sentença Ante o Poder do Dinheiro

O juiz caiu na lama
com sua honra e sabença.
Expôs-se à corrupção
e contraiu a doença.
Quatro milhões em um cheque
foi o preço da sentença.

(Leia na íntegra em Cordel)

Propaganda e Contrapropaganda

Marcelo Mário de Melo

Passadas as eleições, e tomando como referência o Recife, cabem alguns questionamentos sobre estratégia de propaganda, independentemente dos resultados dados e sem a escravização ao raciocínio comodista do “se ganhamos, é porque tudo estava certo e nada mais se deve discutir”.

E por que não admitir a hipótese de que a vitória, mesmo expressiva, poderia ter sido mais ampla? E se nós tivéssemos ido para o segundo turno? É importante ter clareza sobre este aspecto, porque, nem sempre, estaremos em situação de franca superioridade, como agora. E numa situação marcada pela inferioridade ou o equilíbrio de forças, acentua-se a importância de explorarmos ao máximo as potencialidades político-propagandísticas existentes.

Em caso de candidatura a reeleição, é natural que se dê ênfase à necessidade de dar continuidade à gestão, ressaltando as suas ações e propostas de avanço. Assim como, se estamos na oposição, devemos ressaltar a superioridade das nossas propostas. Isto é propaganda.

Mas num caso e noutro, é necessário desmontar a credibilidade das propostas e da imagem publicitária do campo adversário, principalmente, expondo a contradição entre a sua fala e os seus feitos. Isto é contrapropaganda. Aspecto que em nenhum momento deveria ser subestimado, como vem ocorrendo nas campanhas eleitorais nos últimos tempos.

Propaganda e contrapropaganda são como dois pés compondo passos na mesma trajetória e nenhum deles dispensa o outro. Mesmo que se admita a diferença de peso entre eles, em cada circunstância concreta.

Se neglicenciamos a contrapropaganda, é possível que a proposta ou a afirmativa x ou y, vinculada a propaganda adversária, agregue pontos que não lhe seriam tributados, se tivesse sido enfrentada adequadamente e a tempo.Num primeiro turno, isto pode parecer irrelevante. Mas num segundo turno, todas as parcelas são canalizadas para um somatório geral em que resultam só duas forças, dois candidatos.

Como exemplo, a proposta do Compaz, disseminada pelo candidato Raul Henry. Para abalar a sua credibilidade, bastaria apresentar uma notícia de jornal, do ano 2000, onde Raul, como secretário de Jarbas Vasconcelos, ao lado do comandante da PM, anuncia a formação de 332 Núcleos de Segurança Comunitária. Isto, fazendo-se o contraponto com os minguados 32 Núcleos criados nos oito anos das duas gestões jarbistas. Poderia citar dezenas de exemplos como este.

A questão da contrapropaganda foi devidamente equacionada pelo mestre Jean-Marie Domenach no seu livro referencial A Propaganda Política. E sempre será útil recolher os seus ensinamentos. Para que possamos aumentar o volume dos frutos nas nossas colheitas político-propagantísticas.



sábado, 4 de outubro de 2008

Hai kai

PARTIDO POLÍTICOS:
EVENTOS ELEITORAIS.
E O QUE FAZEM MAIS?
(MMM)

As Eleições e os Poderes

As instituições da república brasileira são fortemente marcadas pela tradição da escravatura e da corte portuguesa, caracterizando o que se pode chamar de república imperial e cortesã.
O Poder Executivo é muito centralizado e o presidente, chefe da nação e chefe do governo, detém alguns atributos de um monarca. Mas, salvo as largas exceções das investiduras ditatoriais, os presidentes são escolhidos por eleições, passam pelo controle do Legislativo e podem ser destronados por processos de impeachement, como ocorreu com Fernando Collor de Mello.
O Poder Legislativo também é super-poderoso e prenhe de privilégios de casta, constituindo a arena em que despontam com mais evidência a desqualificação e as deformações do processo político brasileiro. Mas os parlamentares são escolhidos pelo voto, estão muito expostos à crítica pública e, de vez em quando, assistimos a processos de apuração de responsabilidades que resultam em cassações de mandatos.
Os membros do Poder Judiciário são vitalícios e, diferentemente do Executivo e do Legislativo, estão acima de qualquer controle público. Como na tradição judaico-cristã Moisés recebeu as taboas da lei diretamente de Deus, restou aos juízes e promotores a aura de representantes terrenos do Altíssimo, situados no olimpo e preservados de quaisquer influências dos simples mortais.
No momento eleitoral, todas as mazelas da república vêem à tona, pois é nele que os governantes e os parlamentares se empenham em renovar os seus e/ou os mandatos dos seus aliados. Trata-se de um vale-tudo, que o poeta Henri Heine, numa metáfora eqüina, comparou a uma corrida de pangarés. E são muitos pangarés com fantasia de puro-sangue, mostrando-se com as maquiagens do marketing.
Embora não seja submetido aos processos de seleção e escolha, o Poder Judiciário também desponta nesse momento. São exigidos os cuidados específicos da Justiça Eleitoral e a disputa pelo voto apresenta a sua face de guerra jurídica, gerando ações judiciais de todo o tipo. Os representantes da justiça também ocupam o centro da cena e se colocam na linha dos refletores, expondo o seu plantel de pangarés e puros-sangues.
Humano, demasiadamente humano.
Político, demasiadamente político

Pixema

DÊ VOTO
SEM SER
DEVOTO!

(MMM)



terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cuidado com a Tensão Pré-Eleitoral!

Marcelo Mário de Melo

A estas alturas da campanha eleitoral, começam a grassar com mais intensidade, nos comitês da direita, da esquerda e do centro, os sintomas e os efeitos de um distúrbio político-psicológico que ainda não entrou na pauta dos estudos acadêmicos e, muito menos, no território dos consultórios dos profissionais da saúde mental. Trata-se da TPE: a Tensão Pré-Eleitoral, que se manifesta independentemente de hierarquia e área específica de trabalho. Os mais afetados pelo mal, no entanto, são os profissionais da comunicação.

Na proximidade dos debates entre candidatos, com o olho ansioso nas pesquisas “quanti” e “quali”, ante o desejo de ganhar no primeiro turno ou conseguir chegar nele, a contagem regressiva do final de campanha corre o perigo de se transformar em contagem depressiva. Situação em que os neurônios desgastados podem colocar tudo a perder. Numa decisão mal-tomada. Num pequeno detalhe que passou despercebido.

São roteiros de programas rasgados. Dúvidas atrozes sobre manter a campanha no nível “propositivo” ou "partir para o ataque". Fazer ou não fazer uma nova peça publicitária. Tudo isto, em meio às advertências do setor jurídico sobre os “pode-e-não-pode” da legislação eleitoral e os riscos de se dar margem a “direitos-de- resposta” ou outras ações judiciais por parte dos comitês adversários.

Também podem interferir na Taxa Mínima de Equilíbrio Profissional e Político – TMEPP o afloramento de reações mórbidas decorrentes do estresse e segundo a estrutura psicofísica de cada um. São enxaquecas, insônias, prisões-de-ventre, diarréias, dispnéias, subidas de pressão, faltas de apetite, gula. Sem falar no largo espectro dos distúrbios diretamente psicológicos, a exemplo da síndrome de pânico. Isto agravado pelo fato de as pessoas que seguem tratamento, no turbilhão das campanhas, geralmente o relaxarem, perdendo consultas com o terapeuta ou ficando desprovidas dos seus comprimidos habituais.

Para complicar mais ainda a situação, há a interferência nesse caldeirão das questões ligadas às esferas afetivas e libidinais. Promovendo o cruzamento de pessoas e sotaques diversos em convivência diária, extrapolando os expedientes de trabalho normais e vivenciando situações informais, os comitês de campanha são um terreno fértil para fantasias, atrações, paqueras, encantamentos, seduções e paixões possíveis e impossíveis de todo tipo. A roleta amorosa gira durante o jogo eleitoral. E o grau de realização dos diversos jogadores nos seus lances também afeta, com um peso habitualmente subestimado, a TMEPP de cada um.

Que os responsáveis maiores pelas campanhas eleitorais reflitam sobre este aspecto. De minha parte, e numa perspectiva radicalmente de esquerda e socialista, afirmo com a mais absoluta segurança que a luta popular também é afetada pelo que rola no leito copular.
E nada mais tenho a declarar.

Cada um que responda.
Cada um que proponha.
Cada um que proceda.

Apenas constato.
E um fato é um fato.

domingo, 28 de setembro de 2008

Mendonça, Raul e Cadoca: o denominador comum

Marcelo Mário de Melo

Os candidatos Mendonça, Raul e Cadoca, até pouco tempo estavam acampados no Governo Jarbas Vasconcelos, como representação da falecida União Por Pernambuco. Era o único espaço que lhe restava no poder executivo, depois que perderam a Prefeitura do Recife, com João Paulo eleito e reeleito, a presidência da república, com Lula também fazendo bis, e finalmente, o governo do estado, com a eleição de Eduardo Campos, derrotando fragorosamente Mendonça Filho.

Agora separados, eles têm uma responsabilidade comum pelos oito anos de promessas fantasiosas e omissões clamorosas dos dois Governos Jarbas em áreas essenciais como Desenvolvimento Econômico, Saúde, Educação e Segurança.

Já na reta final do Governo Jarbas, e no exercício do cargo, Mendonça tentou um marketing próprio, adotando medidas-de-última-hora com evidentes fins eleitoreiros. O concurso público na área de segurança. Uma pequena redução nos preços das passagens de ônibus. Mas tudo isto foi suplantado por uma série de frutas estragadas da gestão, que começaram a cair de podres e a ocupar espaços nas manchetes dos jornais.

A Empetur sendo questionada como uma estrutura arcaica, desapetrechada, pesada e inoperante, sem o foco num trabalhão efetivamente e estruturador da área do turismo, reduzido à produção de eventos – a pernambucanofolia. A incapacidade de captar recursos para o Estado, por falta de projetos ousados. A incompetência em negociar, revelada na pendenga jurídica, durante oito anos, com a Caixa Econômica, impedindo o Estado de ser beneficiado por recursos vindos dela e paralisando as obras da barragem de Pirapama.

A Educação passou oito anos sem um único concurso público, com as capacitações estancadas, os alunos sendo aprovados em física e em matemática, mesmo sem a existência de professores e aulas. Sem falar do sucateamento do estado físico das escolas. O que não podia ser compensado pelas 17 vitrines montadas no estado, com ensino em dois expedientes direcionados a grupos de 300 alunos em cada uma, com o foco publicitário colocado sobre a vitrine maior, do antigo Ginásio Pernambucano, e a mensagem subliminar de que as outras 16 a igualavam e em infra-estrutura.
Na área da saúde o descaso atingiu os limites extremos, repetindo-se também aí a inexistência de concursos públicos nos dois governos. E a desestruturação das unidades de serviço chegando aos limites do sucateamento. Como exemplo maior, o Hospital da Restauração, desapetrechado, a alo ponto de as macas do SAMU ficarem nele retidas, por carência desse equipamento elementar.

A Segurança passou pelo maior troca-troca de secretários e por situações deploráveis. Um titular da pasta se escondendo debaixo de uma mesa durante a greve dos policiais. Outro autorizando aos presos ricos a construção de celas de luxo com recursos próprios e perseguindo flanelinhas. Outro reconhecendo com todas as letras que os índices eram insatisfatórios.

As manchetes implacáveis dos três jornais da cidade documentam tudo. E por tudo isto respondem os candidatos Mendonça Filho, vice-governador de Jarbas e governador em exercício no fim do mandato; Raul Henry, secretário de educação; Carlos Eduardo Cadoca, secretário de desenvolvimento econômico e turismo.

E respondem, porque estiveram oito anos juntos, exatamente como diz a música popular:

“comendo a mesma comida,
bebendo a mesma bebida,
respirando o mesmo ar.”

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

NEM DEM NEM DENGUE NEM FILHOTE DE JARBAS NEM CADUCOFOLIA




A MURALHA POPULAR
Marcelo Mário de Melo

Mendonça
molde
moldura
mauricinho
milionário
manjado
mandão.

Manha
malícia
moita
mamata
mala
monopólio
moeda
mercado
mesmice
mídia
máscara
mentira
malfeito
maltrato
migalha
miséria

Memória.
Memória.

A massa
monta
muralhas.

Mulatos
mulatas
meninos
meninas
moços
moças
moradores
do mangue
mendigos
e médios
militantes
mobilizados
mandam
mensagens
multiplicam-se
de mãos dadas
na Frente
do Recife
de João Paulo
e João da Costa
na luta
no aguardo
com Lula
e Eduardo.

Assim
é que o povo gosta
e aposta
com gosto
de gás
lembrando
de Arraes
que lembrava
a cidadãs
e cidadãos
que o povo
não destrói
com os pés
o que constrói
com as mãos

Companheiros
é uma questão
de princípio
defender
o Município
do PSC
do PSDB
do PMDB
do DEM
e da dengue.

Vamos continuar
a mudar
invertendo
prioridade
na cidade.

Essencialmente
temos de fazer
diferente
alegres
e cantando loas
porque
na verdade
a grande obra
é cuidar
das pessoas.

Pressão, Hipóteses e Coxas

Marcelo Mário de Melo

“Não decido sob pressão!” Esta é uma declaração que, de vez em quando, aparece na boca de dirigentes públicos e privados, ante reivindicações ou cobranças de algum segmento social. “Não raciocino sob hipótese!” Esta também ocorre com o mesmo nível de freqüência, em falas de políticos indagados sobre passos futuros da sua trajetória. E quando se quer depreciar algo tido como concluído às pressas ou mal-acabado, muitas vezes se diz: “coisa feita nas coxas!”.

Quero levantar o meu protesto e revelar o que existe de incorreto, antinatural e injusto em tais afirmativas.

Em primeiro lugar, vamos deixar claro que só decidimos qualquer coisa sob pressão, porque a pressão é o nosso território de sobrevivência natural e social. É a pressão arterial batendo no peito. A pressão do calendário despetalando os dias. A pressão do relógio calcando a agenda. A pressão do velocímetro e do tanque de gasolina. A panela de pressão no fogo A pressão do dinheiro faltando para comprar e pagar. A pressão dos cálculos com o dinheiro chegando. A pressão da mulher ou do marido. A pressão dos filhos. A pressão dos parentes, companheiros, amigos e vizinhos A pressão do consumo. A pressão da mídia. A pressão da opinião pública. A pressão íntima. A pressão do medo. A pressão do sonho.

Quanto às hipóteses, por favor! Qual aquele ou aquela que ostenta a condição humana e não raciocina? E como raciocinar sem fazer hipóteses? O fato é que - e utilizando aqui o termo hipótese no seu sentido geral, e não na rigorosa acepção vinculada ao método científico - vivemos o tempo todo fazendo hipóteses. Em torno das coisas máximas e mínimas da vida. A curto e a longo prazo. E sendo assim, que se retifique o discurso. Diga-se que determinadas hipóteses se ligam a elaborações especulativas e não serão externadas. Que ainda não se fez hipóteses sobre o assunto em questão. Mas por favor, sem essa de dizer que não se raciocina com hipóteses. Ou então se assuma a condição de primata ou robô.

E finalmente, quanto às coxas, estamos diante de uma grave injustiça sexual. Porque nas coxas é muito gostoso, muito próximo e, às vezes, fecunda. As coxas representam uma instância antecedente ou alternativa com elevado potencial de prazer, não devendo ser rebaixadas à condição de metáfora de realidades toscas, desagradáveis e insatisfatórias. Para representá-las, que se fale então em coisas feitas “nos tornozelos” ou “nos joelhos”. E aqui muito cuidado, porque logo acima dos joelhos começa o território prazeroso e injustiçado das coxas.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Gracias a Mendonça!

Quero manifestar o meu mais reconhecido e profundo agradecimento ao candidato a prefeito do Recife pelo DEM, ex-vice-governador de Pernambuco e deputado federal José Mendonça Filho, pela grande contribuição que deu à candidatura de João da Costa na reta final desta campanha.

O fato é que os altos índices de João da Costa nas pesquisas estavam levando a um acomodamento em determinadas áreas da militância petista e da Frente do Recife em geral. Isto aliado ao mal-costume de confiar somente no marketing e esquecer a mobilização.

Instalava-se um clima de vitória prévia. Aquele negócio do carro desligado descendo ladeira. Um certo desânimo em continuar atuando a pleno vapor, diante do que se considerava um inimigo já nocauteado.

Militantes começavam a dispensar a atuação diária e a fazer presença alternada no comitê e nos atos de campanha. Representantes impacientes da esquerda festiva contavam os dias nos dedos, pensando somente na confraternização no Marco Zero.

Um companheiro octogenário, dispensado legalmente da obrigatoriedade do voto, sempre fazia questão de votar no PT em todas as eleições, criticando o excesso de otimismo e alertando que não se pode dispensar nenhum voto.

Mas dessa vez também entrou no clima do já ganhou. Anunciou que diante de índices tão elevados, o seu voto era desnecessário e iria ficar em casa acompanhando pela televisão a vitória certa.

Foi então que explodiu como uma bomba a decisão do juiz Nilson Nery, cassando a candidatura de João da Costa. A militância levou um chute no fígado. Abriu os olhos. E começou a soltar fogo pelas ventas como o dragão do desenho animado.

A freqüência nos comitês aumentou. As caminhadas engrossaram. Os pedidos de material de campanha se multiplicaram. Os telefonemas não páram de tocar com militantes se oferecendo para ajudar. Instaurou-se na campanha de João da Costa aquele clima de torcida na partida final da copa do mundo.

Devemos tudo isto ao candidato Mendonça Filho.

Mas somos reconhecidos também a outros atores e a outras atrizes que deram a sua parcela de contribuição para este tão importante e promissor resultado: os candidatos Raul Henry e Edílson Silva; a promotora Andréa Nunes, autora da denúncia contra a candidatura de João da Costa; a juíza Margarida Cantarelli, que liberou aos advogados do DEM os autos do processo; o juiz Nilson Nery, que, com chave de ouro, recomendou a cassação da candidatura de João da Costa.

Sem nenhuma dúvida, o brilho da nossa vitória seria menor sem a contribuição de vocês.

A todos e a todas, com a certeza de que “Deus escreve certo por linhas tortas”, a candidatura de João da Costa agradece.





É Bola no Pé/música

Marcelo Mário de Melo

Eleição
se ganha no voto
se ganha no jogo
e não com jogada
de advogado.

Eu quero ganhar
com a bola rolando
no gramado.

O povo não gosta
de cartola.
A luta é a mola
do time e da torcida.

É bola no pé.
Mantenho a aposta:
nós vamos ganhar
com João da Costa!

Chico de Assis Relança Livro no Recife

No próximo dia 30, no Biruta, a partir das 18:30, haverá o lançamento da 2ª edição, revista e ampliada, do livro "A trilha do Labirinto", do advogado e ex-preso político pernambucano Chico de Assis. O livro foi premiado em 1995, pela UBE-PE, e publicado em 96 pela Inojosa Editores. Sai agora com aprimoramentos na estrutura narrativa, uma bela programação visual de Juliano
Dornelles, orelha do poeta Jaci Bezerra, nota do autor e prefácio de Celso Lungaretti.

Promotoria

Promotor
Problema
Processo

Propósito
Programa
Procedimento

Produção
Provas
Propriedade.

Proponente
Proximidade
Proteção

Pró-ator?
Pró-mentor?
Pró-motor?

Pro mal?
Pro bem?
Servindo a quem?

A a?
A b?
A c?
A d?

A bem?
A cem?
A dem?

A ninguém?
A Deus?
Ao Demo?

Adeus ao direito?
À democracia?
Tudo aos democratas?

Contas ingratas.

Promotoria.
Ria.
Ria.
Ria.
Para não chorar.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Acróstico para a promotora Andrea Nunes

Amor à justiça plena
Nunca concede um favor.
Democrata verdadeira
Reafirma o seu valor
Empreende e não descansa
A serviço do eleitor.

Não favorece ao amigo
Usa a justa medida
Navega de norte a sul
Entre Mendonça e Raul
Sempre firme e aguerrida.

Documentário e Exposição Fotográfica sobre o Revolucionário Apolônio de Carvalho

Apolonio de Carvalho – falecido há três anos, depois de mais de nove décadas de luta contra a opressão na Guerra Civil Espanhola, na Resistência Francesa e no movimento revolucionário contra as ditaduras no Brasil – é a figura central do documentário “Vale a Pena Sonhar”, que será apresentado na quinta-feira 25 de setembro, 14h30, no auditório João Cabral de Mello Neto da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, UPE, em frente ao Sport Club.

Depois da projeção haverá um debate com a diretora do filme, Stela Grisotti, a presidente do Grupo tortura Nunca Mais de Pernambuco, Andreza Porfírio, e o presidente da Associação Pernambucana de Anistiados Políticos (APAP), Antônio Campos.

O documentário será reprisado em 30 de setembro, 2 e 23 de outubro, no mesmo horário e local, sempre com entrada franca.

A exposição fotográfica Apolônio de Carvalho - A Trajetória de um Revolucionário, acerca desse personagem legendário da história brasileira e internacional, está ocorrendo desde o dia 23 de setembro e permanecerá até o dia 23 de outubro, instalada na Estação Central do Metrô, na rua Floriano Peixoto, próximo à Casa da Cultura.

Os eventos fazem parte do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com a Fundação Luterana de Diaconia e Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice). Conta também com o apoio do governo do Estado de Pernambuco.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ave Andrea! - Panegírico à Promotora Andrea Nunes

[Panegírico: discurso em louvor de alguém, elogio; panegyrikós, do grego; panegiricu, do latim]

Criticar é fácil. Difícil é elogiar. E é enfrentando esta dificuldade que desejo explicitar neste momento, data vênia, meu elogio à operosa Promotora Andréa Nunes, titular da procuradoria do Ministério Público de Pernambuco, situada na Justiça Eleitoral.

Recebendo denúncias advindas de partidos políticos representados na disputa eleitoral à Prefeitura do Recife, com o apoio do denominado DEM – Democratas, ex-PFL, por sua vez ex-PDS, por sua vez ex-ARENA, denúncias essas dirigidas contra o candidato a prefeito do Recife pela Frente do Recife, o petista João da Costa, deputado estadual e ex-secretário do Planejamento e Orçamento Participativo, uma delas acerca de possíveis intervenções de instâncias do poder executivo municipal em favor da candidatura de João da Costa, a muito digna e operosa promotora epigrafada se diferenciou admiravelmente no seu mister, pelo empenho e o espírito inovador na produção de provas e no zelo em aplicar a justiça com ampla, geral e irrestrita intenção reparadora e erradicadora, incluindo-se aí a erradicação de candidaturas.

Nessa performance reside o substrato, a razão de ser, o centro e o móvel deste meu discurso panegírico. Sem entrar em detalhes técnico-jurídicos próprios aos causídicos e jurisperitos, atenho-me a aspectos que me impressionaram como cidadão comum e profissional da comunicação, a saber:

- A promotora Andréa Nunes, segundo informações correntes nos jornais e nos blogs de notícias, para enriquecer um dos processos contra a candidatura de João da Costa, sem nenhum pejo e em desapego a formalísticas delimitações de espaços de atuação, desceu à esfera da investigação policial e se infiltrou entre militantes da respectiva campanha, passando-se por um deles e produzindo documentação fotográfica;

- Na denúncia que envolve a acusação de uso dos computadores da Prefeitura do Recife por parte de militantes do PT, em arregimentação para atos de campanha do candidato João da Costa, a Promotora Andréa não se limitou à inculpação individualizada dos autores do delito em investigação, mas num rasgo de zelo e entusiasmo preventivo e saneador, de dimensão salomônica, tratou de cortar o mal pela raiz, pronunciando-se pela impugnação da candidatura de João da Costa e pela cassação do mandato do prefeito João Paulo;

- Quando os advogados do DEM, tendo acesso aos autos dos processos, levaram informações à imprensa, constrangendo o Juiz, a Promotora Andréa antecipou-se em declarações à imprensa afirmando que o fato não prejudicava o andamento normal do caso, num zelo com a essencialidade da justiça, descartando ações diversionistas que pudessem favorecer a defesa de João da Costa e, mais uma vez, coerente com o seu perfil inovador e pioneiro;

- A Promotora Andréa Nunes também revela a sua face de modernidade e pioneirismo no fato de não dificultar os contatos com a imprensa, reconhecendo a importância da circulação de informações na consciência jurídica dos cidadãos;

- Estas atitudes são fortemente emblemáticas acerca do sentimento de justiça da promotora Andréa Nunes. Só é lamentável que ela não detenha os poderes da Santíssima Trindade, para poder alargar a sua ação aos terrenos das demais candidaturas a prefeito do Recife, fazendo assim com que o eleitorado, os cidadãos em geral e a república brasileira, nesta parte do lado de baixo do Equador, pudesse se beneficiar mais ainda com a sua ação.

Se não fosse eu materialista-ateu desde os 18 anos de idade, a estas alturas com a estabilidade dada pelo tempo de serviço, certamente dirigiria à ilustre panegiriada este voto: que Deus a tenha e a mantenha, Promotora! Na impossibilidade filosófica de fazê-lo, ofereço-lhe, apenas, a singela e mortal exaltação: honra e glória e longa vida a Vossa Excelência, Promotora Andréa Nunes! Os democratas do Recife, de Pernambuco e do Brasil lhe agradecem pelos seus serviços.

domingo, 21 de setembro de 2008

O Caso João da Costa

As análises em torno da candidatura de João da Costa, num período além do razoável, foram baseadas em formulações abstratas e tangenciadoras dos elementos determinantes que envolvem a disputa eleitoral no Recife. Portanto, vamos a eles.

Primeiro, temos as duas gestões de João Paulo largamente aprovadas pela população, com a sua aprovação pessoal acima delas. Esse elemento foi e continua a ser subestimado pelos palanques oposicionistas à direita, antes reunidos na falecida União por Pernambuco. Eles esgrimem falhas e erros específicos que, mesmo se verdadeiros, não afetam os resultados de conjunto nem anulam os benefícios que o povo pode constatar no seu dia-a-dia.

O quadro das pesquisas, comparando-se as concentrações populacionais de alta e de baixa renda, reproduz a velha polarização que, nas eleições de Arraes para prefeito em 1959 e para governador em 1962, punham no Recife, num lado da balança, o voto da “poeira”, pesando para a esquerda, e do outro, o voto do asfalto, inclinado à direita. O diferencial agora é que a gestão de João Paulo conseguiu a adesão de largos setores da classe média e de fatias do andar de cima.

O apoio do presidente Lula, a nítida identificação entre Lula João e Paulo, a presença do governador Eduardo Campos, constituem o segundo fator determinante. Acrescente-se a isto o arco de alianças composto por 16 partidos, incluindo-se migrantes da União por Pernambuco.E se considere o efeito de arrastão decorrente da difusão da imagem do candidato majoritário nas rinhas em que se desenrolam as campanhas de vereador.

O terceiro fator determinante é o candidato. E aqui a mídia e alguns analistas políticos se enganaram e se surpreenderam. João da Costa foi tratado, inicialmente, como o “poste”, o “afilhado” de João Paulo, o “tímido”, o “antipático”, o “feio”. O programa eleitoral do candidato Raul Henry ainda insiste, num quadro de invulgar vulgaridade, em tratá-lo por “aquele baixinho”. Como se tamanho fosse documento, principalmente, em política.

O fato é que João da Costa recebeu o passe de João Paulo, levantou bem a bola, saiu armando as suas jogadas, afirmou-se diante da torcida e começou a desenhar o seu estilo de jogo. Coisa que nenhum “poste” poderia fazer. E que não teria sido elemento de surpresa, se a mídia e os analistas políticos, em lugar dos raciocínios à base de clichês, tivessem se informado sobre a sua experiência e os seus desempenhos políticos anteriores.

Num breve resumo, lembro que João da Costa atuou como assessor de João Paulo em campanhas e mandatos de vereador e deputado estadual, além da candidatura a prefeito de Jaboatão. Nas campanhas majoritárias, sempre coordenou a elaboração dos programas de governo. Integrou a primeira gestão petista do Recife como secretário do Orçamento Participativo e passou à Secretaria de Planejamento na segunda, nela estando incluído o OP.

Com o apoio de João Paulo foi eleito o deputado estadual mais votado. Suas intervenções nas assembléias do OP e nas plenárias de campanha eleitoral sempre se caracterizaram pela substância, a articulação lógica e a sintonia com o público. O que, no processo político, predomina sobre as aproximações pessoais, território da sua timidez - que, a propósito, foi sendo significativamente superada no decorrer da campanha eleitoral.

Ante estes três fatores determinantes, que se refletem nas pesquisas, altamente favoráveis a João da Costa e apontando para uma solução final no primeiro turno, resta aos palanques adversários colocar o binóculo em falhas reais ou imaginárias da gestão João Paulo, cavar ações judiciais, criar factóides, lançar boatos e peças apócrifas, montar embustes tipo Maria do Socorro [campanha de Cadoca 2004] ou recorrer a outros elementos de ação ilegal e clandestina, como já ocorreu tantas vezes.

Excesso de Exagero: polêmica com Luciano Siqueira

Companheiro Luciano,
Antes de tornar público este artigo, lhe envio, pedindo que sejam feitas correções quanto a elementos factuais e para que você tome conhecimento em primeiro lugar. Espero uma resposta sua.
Um abraço
Marcelo

Luciano Siqueira, ao lado de Gustavo Krause, com o adesivo de Priscila Krause no peito, na inauguração do comitê da vereadora, candidata à reeleição pelo DEM. E ainda mais, segundo a matéria publicada no Jornal do Commércio de 16 de agosto, afirmando: “esse mandato precisa ser renovado”.

Como se explica isto?

O DEM, produto clonado e maquiado da ARENA, do PDS e do PFL, é o agrupamento político mais representativo da direitagem e do conservadorismo no Brasil, sendo Gustavo Krause um dos seus ideólogos, enquanto Priscila Krause vem exercendo, na Câmara Municipal do Recife, a mais intransigente oposição à administração da Frente de Esquerda do Recife, que tem João Paulo à frente, sendo Luciano Siqueira o seu vice.

Num processo eleitoral, a visibilidade, o simbolismo e a demarcação de campos se acentuam, exigindo das lideranças políticas, principalmente daqueles militantes mais conhecidos e reconhecidos, um cuidado especial para que as suas atitudes não venham colocar água no moinho dos adversários, confundir o eleitorado ou gerar insatisfações e polêmicas nas fileiras em que estão engajados.

É normal, nas campanhas eleitorais, que se visitem os comitês dos partidos aliados. Mas marcar presença na arena de partidos adversários, gerando imagens que poderão ser utilizadas publicitariamente e lhes render votos, é rigorosamente inabitual, incorreto e inadmissível.

Ora, Luciano Siqueira pertence ao PCdoB, partido integrante do bloco político que está à frente da Prefeitura do Recife e sustenta a candidatura de João da Costa a prefeito da capital. E nesse bloco se colocam duas tarefas: eleger o prefeito e uma bancada de vereadores que lhe dê sustentação. Nessa perspectiva, trabalhamos contra outras candidaturas a prefeito e os seus candidatos a vereador. Diante disto, para que lado somam a presença de Luciano Siqueira no Comitê de Priscila Krause e a declaração de que o seu mandato precisa ser renovado?

Não estou questionando a existência de possíveis relações pessoais de Luciano de Siqueira com Gustavo Krause e/ou a sua filha candidata. É comum que tais coisas ocorram. Os militantes são seres sociais comuns, com afinidades e relações que não se circunscrevem às trilhas da atividade política. Vanguarda também massa. Mas no momento dos confrontos políticos é preciso não misturar as coisas e pesar o conteúdo político e o significado simbólico das nossas atitudes. Neste particular, acho que o companheiro Luciano Siqueira errou redondamente. E como a sua atitude foi pública, também torno pública a minha posição a respeito.




  • RESPOSTA DE LUCIANO

    20 de Agosto
    Querido companheiro Marcelo:
Como lhe falei hoje à tarde, só ontem à noite li sua mensagem.

Se tenho uma permanente abertura à crítica, mesmo quando feita por adversários, e as examino com atenção, uma crítica sua será sempre recebida como um ato de solidariedade. Para mim, além de companheiro-irmão, você é um revolucionário.

Devo apenas esclarecer mais uma vez o ocorrido. Estive, sim, na inauguração do comitê de Priscila Krause, juntamente com Luci, ali permanecendo não mais do que dez minutos. Fui retribuir a atenção que ela tem dispensado ao meu partido, o PCdoB, e a mim, em diferentes ocasiões – a exemplo do ato comemorativo dos 20 anos de legalidade do partido e o lançamento dos meus dois livros de crônicas. Aliás, não apenas Priscila, mas o deputado André de Paula (que presidiu o PFL), o ex-governador Mendonça Filho, dentre outros quadros da direita, têm sido cordiais em relação aos comunistas, o que para nós (corrente política proscrita por tanto tempo e alvo de tanta discriminação) tem importância como expressão da convivência democrática. Porém jamais qualquer gesto de cortesia mútua significou para nós do PCdoB tráfico de princípios ou concessão política. Aqui e em outras partes do país onde fatos semelhantes acontecem – como na festa de 30 anos de vida pública e pré-lançamento da então candidatura do deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, a prefeito de São Paulo, onde estiveram personalidades como José Serra, Geraldo Alckmin, o prefeito Kassab e outros desse quilate, num gesto de respeito a Aldo e a seu partido.

Agora, jornalista que é, você bem sabe que “papel aceita tudo”. A nota na coluna do Jornal do Commercio, obviamente pautada pelo comitê da vereadora, exagera: afirma que eu estaria pedindo votos para Priscila. Não creio que alguém de bom senso e que me conheça acredite nisso. Seria ridículo. Peço, sim, votos para mim e para outros candidatos a vereador do PCdoB e dos partidos coligados, jamais para alguém que representa o campo de forças adversário. Nunca confundi relações meramente cordiais entre adversários com promiscuidade política e ideológica, você bem sabe.

Você diz que o grande erro é ter visitado o comitê de uma adversária em plena campanha. Como lhe disse, na campanha de 2004 já havia praticado gesto semelhante – compareci à festa de aniversário do candidato de oposição Joaquim Francisco, também para retribuir gestos de cortesia (com a anuência e a concordância de João Paulo). Então, sou um reincidente... De toda sorte, comprometo-me a refletir com mais calma sobre o conteúdo de sua crítica. E, com a sua permissão, publicarei no meu blog a sua mensagem e esse meu breve comentário.



Afetuoso abraço,


Luciano

Análises Eleitorais e Clichês

Pela esquerda e pela direita, o Recife já colheu inúmeros exemplos em que os raciocínios políticos esquemáticos são derrubados pela ditadura da realidade. "Recife, a cidade invicta", vi companheiros se jactarem, considerando as vitórias acumuladas pela esquerda na capital nas disputas eleitorais travadas a partir de 1945, embora com perdas no cômputo dos votos em todo o estado. Até que, nas eleições presidenciais de 1960, Jânio Quadros tirou a virgindade, derrotando o marechal Teixeira Lott, candidato apoiado pelas esquerdas.

“Um candidato derrotado para um mandato parlamentar não pode se lançar a um mandato executivo na eleição seguinte”. Outro dogma que ruiu ante os fatos. Nas eleições de 1958 o deputado estadual Miguel Arraes não conseguiu renovar o seu mandato. Teve menos votos do que o comunista Miguel Batista, que também concorreu a uma vaga. Mas na disputa à Prefeitura do Recife, em 1959, sucessão de Pelópidas Silveira, foi eleito Prefeito, no bojo da articulação eleitoral que havia elegido Cid Sampaio governador do Estado em 1958. Os elementos concretos que envolviam os dois momentos eleitorais eram distintos. Daí a vitória.

Roberto Magalhães, contando com apoio do governador Jarbas Vasconcelos e do Presidente FHC, com a gestão aprovada, perdeu para João Paulo. David Capistrano Filho, também com a gestão aprovada em Santos, amargou a derrota com a candidatura de Telma de Souza a prefeita. Do mesmo modo, o PT gaúcho teve que apear do poder no governo do estado.

Marcus Cunha, candidato a prefeito do Recife com o apoio do prefeito Jarbas Vasconcelos e do Governador Miguel Arraes, foi derrotado por Joaquim Francisco. Roberto Magalhães, candidato à reeleição para a Prefeitura do Recife, com o apoio do Jarbas e do presidente FHC e Jarbas; Cadoca a prefeito, com o apoio de Jarbas; Mendonça a governador, com o apoio de Jarbas. Aliás, Jarbas tem-se caracterizado por ter sido bem votado pessoalmente, mas apresentar péssimos resultados como apoiador. O que já me rendou diversos textos de cordel (LEIA)

Os exemplos citados passaram a figurar, nas análises correntes, como emblemáticos da ineficácia da “teoria do andor”, atribuída a Antônio Lavareda. E nas análises relativas à atual disputa eleitoral para a Prefeitura do Recife, se embrulhou arbitrariamente a candidatura de João Costa nesse pacote, considerando-se o apoio do prefeito João Paulo, do governador Eduardo Campos e do presidente Lula, identificados como sendo “o andor”. Mais uma vez os vetores da realidade transformaram em pó a fiação esquemática.

Ante os analistas esquemáticos do seu tempo, o velho Lênin insistia na necessidade de se fazer “a análise concreta da realidade concreta”, repetindo que “a verdade é sempre concreta”. E ainda citava Goethe: “a teoria, amigo, é cinzenta,/mas verde é a árvore eterna da vida”.